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Meu Nome é Gal alegra e entristece com a juventude de Gal Costa, o tropicalismo e o Brasil da ditadura

Meu Nome é Gal está em cartaz em dezenas de salas brasileiras. O filme de Dandara Ferreira e Lô Politi estava sendo concluído quando Gal Costa morreu, aos 77 anos, em novembro de 2022. Com a morte da cantora, as duas diretoras fizeram algumas mudanças na cinebiografia, que chega ao público com um poder de emocionar certamente maior do que teria se a protagonista estivesse viva.

Parto do pressuposto de que as cinebiografias não são grande cinema. Digamos que é um subgênero que pode gerar filmes muito bons. Meu Nome é Gal é um deles. Um filme e suas circunstâncias – digamos assim.

Meu Nome é Gal é um recorte da vida da artista. Vai de 1966, quando Gal, aos 21 anos, trocou Salvador pelo Rio de Janeiro, até 1971, no momento da estreia do show Fa-tal. O que vemos depois, fechando o filme, é um breve tributo que Dandara e Lô fazem a Gal.

Meu Nome é Gal é o que suas realizadoras quiseram que fosse. Isso é tão óbvio, e o público há de aceitar que seja assim. Depois da sessão, ouvi de um espectador que Sophie Charlotte não tem o sorriso de Gal. Uma espectadora disse que sentiu falta da voz de Gal, já que é a atriz que canta boa parte dos números.

Ouço Gal Costa desde 1969 – eu tinha 10 anos, e foi o ano em que ela lançou seu primeiro disco – e não senti falta de nada. O filme e suas escolhas. Não tem isso (o mega sucesso Que Pena), não tem aquilo (Não Identificado), mas tem uma história muito bem narrada dos primeiros anos da vida pública de Gal Costa.

Meu Nome é Gal se debruça sobre a jovem que deixou Salvador para se tornar uma cantora profissional a partir do Rio de Janeiro e de São Paulo. Sendo assim, insere a personagem no movimento tropicalista, da qual fez parte ao lado dos amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil. E, inevitavelmente, fala do Brasil sob a ditadura militar iniciada em 1964.

É um filme honestíssimo. Alegra, entristece, comove, pode provocar lágrimas – depende da sensibilidade do espectador e dos seus vínculos com a trajetória de Gal.

É também um filme muito necessário pelo reencontro que promove com o Brasil, suas belezas e suas feiuras. O Brasil que produz Gal Costa é o mesmo no qual vozes vindas de suas regiões profundas aplaudiam um regime de exceção.

A Gal vista por Dandara e Lô está situada com muita propriedade entre o desejo de cantar, de tornar pública a sua voz cristalina, e o desafio de se inserir num contexto histórico marcado por extrema violência política.

O tropicalismo é um projeto desafiador e ousado arquitetado sobretudo por Caetano e Gil como enfrentamento à caretice que dominava a cena musical brasileira. A prisão e o exílio dos dois levou Gal a ser porta-voz do que restou do movimento.

Sophie Charlotte encanta e conquista como Gal, enquanto Rodrigo Lelis está ótimo como Caetano. As pessoas que naquele momento fizeram parte da vida de Gal estão todas no filme, em maior ou menor dimensão.

Preste atenção, alguns nomes são mencionados para facilitar a identificação: Gilberto Gil, Maria Bethânia, Dedé e Sandra Gadelha, Guilherme Araújo, Waly Salomão, Jards Macalé, Rogério Duarte, Torquato Neto, Capinan, Dona Mariah, Os Mutantes, Rogério Duprat, Tom Zé.

Foi ao lado de todos esses nomes, nem todos artistas, que Gal se consolidou como uma das grandes cantoras do Brasil. Vê-la biografada na tela do cinema é impactante porque ainda não faz um ano da sua morte.

A cena da gravação de Baby, essa linda canção de Caetano, me tocou muito particularmente. Tem aquele clima no estúdio, tem Duprat dando instruções aos músicos, tem a voz de Gal no lugar da de Sophie. É forte evocação de um tempo. E fala do poder da música de permanecer guardada nas nossas memórias através dos anos.

“Baby, baby, há quanto tempo…”.

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