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O primeiro artigo no jornal a gente nunca esquece

Foto/Reprodução.

No dia 19 de outubro de 2024, completei 50 anos de jornalismo. No dia 19 de outubro de 1974, um sábado, publiquei meu primeiro artigo num jornal. É a data que guardei na memória como marco zero da minha trajetória profissional.

1974 foi o ano em que conheci Antônio Barreto Neto, o melhor crítico de cinema da Paraíba. Barreto leu minhas primeiras tentativas de fazer crítica de cinema e me entregou a Jurandy Moura, que era editor do velho Correio da Paraíba de Teotônio Neto.

Aos 15 anos, passei a publicar três textos semanais sobre os filmes que eram exibidos em João Pessoa. O primeiro foi sobre Fim de Uma Angústia (Rage), dirigido e protagonizado pelo ator estadunidense George C. Scott, esse da foto.

Scott era um ator do “método” que migrou dos palcos para o cinema. Em 1972, quando fez Fim de Uma Angústia, tinha 55 anos. O filme mostra a luta de um homem que perde o filho por causa de um vazamento de gás que o Exécito provocou em sua fazenda.

Fim de Uma Angústia foi exibido na quinta-feira, 17 de outubro de 1974, no Cine Municipal. Às quintas-feiras, o Municipal abrigava o Cinema de Arte, que era resultado do diálogo da associação dos críticos de cinema com o exibidor Luciano Wanderley.

Vi o filme e corri para escrever a crítica na máquina de datilografia portátil que tínhamos em casa, presente do meu avô paterno. Na manhã seguinte, entreguei o texto e uma foto a Jurandy Moura para publicação no jornal do sábado.

O Correio da Paraíba – redação e oficina – funcionava num velho prédio da Barão do Triunfo, perto da Capitania dos Portos. Foi lá que conheci Agnaldo Almeida, que, mais tarde, como editor de A União, teria papel fundamental na minha formação.

Frutuoso Chaves, que também conheci na redação do Correio da Paraíba, dizia que eu jamais ganharia a vida fazendo crítica de cinema, mas como jornalista.

Muita gente me conhece como jornalista de televisão por causa dos 20 anos que passei como editor e chefe de redação da TV Cabo Branco. Mas a minha formação foi no impresso, e, por um bom tempo, nada sugeria que fosse sair dele.

Antes da televisão e do impresso, houve, na infância, a paixão pelo rádio, veículo que só experimentei depois dos 50, tempo em que já pensava na aposentadoria. O jornalismo online, faço, por fim, quando já me considero um homem velho.

Vivi do salário pago pelas empresas onde trabalhei. Tenho orgulho disso porque o meu caminho não foi o dos jornalistas que ganham dinheiro com práticas condenáveis.

Atuei dividido entre o feijão e o sonho – como no título do romance de Orígenes Lessa. O feijão vinha do trabalho cotidiano nas redações. O sonho estava no vínculo, do qual nunca me desfiz, com a crítica de cinema e de música.

Fiz jornalismo na ditadura, quando havia censores e delatores dentro das redações. E fiz jornalismo na democracia, quando testemunhamos notáveis avanços do nosso processo civilizatório e também inacreditáveis retrocessos.

Uma vez, nos bastidores da gravação de uma entrevista, ouvi do assessor do político a quem entrevistávamos que não havíamos superado o estágio da pré-política. O irônico é que, entre a crítica e a lamentação, o assessor falava do próprio assessorado.

Faz uns 30 anos, mas a frase sobre a pré-política me ocorre sempre que contemplo os cenários políticos nacionais e a relação entre mídia e poder.

50 anos de jornalismo. É muito tempo. Fui do linotipo à inteligência artificial. Das esperanças às desilusões. Estou com 65 anos. Devo comemorar?