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Por que a Paraíba comemora o Dia de Iemanjá em 8 de dezembro?

Na Paraíba, o dia 8 de dezembro tradicionalmente é reservado para as comemorações da orixá Iemanjá, que é cultuada nas religiões do candomblé e da umbanda. Conhecida também como “Rainha do Mar”, Iemanjá é uma das figuras religiosas mais conhecidas em todo o Brasil. A data 8 de dezembro é feriado em João Pessoa, mas oficialmente comemora o Dia de Nossa Senhora da Conceição.

O Jornal da Paraíba conversou com o líder religioso conhecido como Pai Elialdo, para saber das raízes históricas da data na Paraíba e os motivos pelos quais ela não é a mesma em relação a outros estados, como na Bahia e também no Rio de Janeiro. Além disso, em outras localidades, existem também datas diferentes para a comemoração, como é possível ver na reportagem abaixo. 

Iemanjá

Conhecida como uma divindade dos mares, a mãe dos orixás e protetora dos marinhos, Iemanjá tem um culto oriundo das religiões de matriz africana no Brasil. O culto à divindade foi trazido para o país na época da colonização portuguesa, por meio do tráfico de pessoas que foram escravizadas. 

O nome “Iemanjá” vem de uma expressão iorubá, que é um povo que vivia no norte da África, que se referia justamente a essa orixá. A expressão que eles utilizavam era “Yêyé omo ejá”, que em tradução livre significa “mãe cujos filhos são peixes”. 

Os seguidores de Iemanjá acreditam que a orixá tem domínio completo sobre o mar, e é muito comum que os seguidores façam preces a Ela quando vão se aventurar, de alguma forma, nas águas. 

No Brasil, devido ao sincretismo religioso, no catolicismo, Iemanjá é relacionada a Nossa Senhora do Navegantes, Nossa Senhora de Candeias, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria. 

Festa de Iemanjá em 8 de dezembro na Paraíba

Em contato com a reportagem, o líder religioso conhecido como Pai Elialdo disse que as raízes das comemorações em homenagem a Iemanjá na Paraíba no dia 8 de dezembro remetem a uma época de grande preconceito religioso, em que inclusive era proibida a prática de religiões das matrizes africanas no estado. 

A festa é realizada no dia 8 de dezembro porque na década de 60 era terminantemente proibida qualquer religião que não fosse o catolicismo. As religiões que eram de matrizes africanas eram terminantemente proibidas, porque existiam intolerância e preconceito, então os órgãos proibiam esse ato”, explica o contexto da época. 

Segundo conta Pai Elialdo era comum naquela época que os cultos em torno do orixá Iemanjá fossem reprimidos veementemente com o uso da força pelas autoridades. 

“Pra ter uma ideia, quando se tinha um ritual, uma festa de religião de matriz africana, se a polícia soubesse, chegava lá aprendia o atabaque, prendia os dirigentes”, relembra. 

No entanto, esse cenário começou a mudar a partir de leis instauradas pelo então governador da Paraíba João Agripino, que governou o estado durante os anos de 1966 e 1971. Na ocasião, a lei 3.434, assinada por ele, garantiu a expressão de cultos afro-paraibanos. 

“O governador da época, João Agripino, teve um papel importantíssimo contra a violência que era colocada, quando ele sancionou a lei que naquele dia em diante na Paraíba as religiões de matriz africana eram liberadas. Todo e qualquer culto que fosse de religião africana, umbanda, candomblé e outras, seria liberada”, disse. 

Por conta dessa liberação, segundo conta Pai Elialdo, os líderes religiosos dessas vertentes escolheram o dia 8 de dezembro para homenagear Iemanjá e como forma de agradecimento à lei do governador. 

“Os líderes religiosos, os sacerdotes da época, escolheram o dia 8 de dezembro para homenagear Iemanjá e fazer a festa em homenagem a ela e em forma de agradecimento também ao governador da época, João Agripino. Pra você ter uma ideia, a primeira festa de Iemanjá foi realizada na frente da casa do então governador, agradecendo a ele”, relatou. 

Em outros estados, outras datas para Iemanjá

Por conta de ser uma das divindades mais conhecidas divindades do Brasil, Iemanjá é celebrada largamente em todo o território brasileiro, no entanto, o dia 8 de dezembro não é a data de homenagem para a orixá em outros estados assim como é para a Paraíba. Isso porque os contextos de cada localidade em relação a Iemanjá mudam, como explica o Pai Elialdo. 

“O Dia de Iemanjá se torna muito conhecido pelo dia 2 de fevereiro, porque é o dia escolhido para homenagear essa orixá na Bahia, por a Bahia tem esse ponto de referência de ser o estado do candomblé, o estado da africanidade, o estado das religiões de matrizes africanas”, explica. 

Em relação ao Rio de Janeiro, o Pai Elialdo diz que a data muda no estado se comparamos ao 8 de dezembro na Paraíba e também ao 2 de fevereiro na Bahia. 

“No Rio de Janeiro a data não é nem 8 de dezembro nem 2 de fevereiro, é no dia 31 de dezembro. Existem ainda outros estados, como São Paulo, onde Iemanjá é comemorada no mês de agosto, no dia 12. Cada estado tem sua particularidade em fazer essas homenagens”, ressaltou. 

Para Pai Elialdo, essa diversidade de datas, reflete a popularização que Iemanjá tem em território nacional. “Iemanjá é o orixá mais popular do Brasil, mais conhecido do Brasil, então todo mundo que é de religião de matriz africana ou não, seja simpatizante, curioso, a sociedade de uma forma geral, conhece Iemanjá”, disse. 

Neste ano, em 2023, assim como nos últimos, Pai Elialdo disse que as comemorações para homenagear Iemanjá vão começar um dia antes do 8 de dezembro, no dia 7. No caso das festividades organizadas por ele, vai acontecer Com a famosa “festa da Coroação”, no bairro do Valentina. 

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