PB INFORMA

Notícias da Paraíba e Nordeste, futebol ao vivo, jogos, Copa do Nordeste

Noticias

Você odeia ou você ama Yoko Ono?

Essa foto que parece defeituosa é a capa do CD Ocean Child: Songs of Yoko Ono. Não sabia da sua existência. Casualmente, dei com ele dias atrás numa loja de discos. É um tributo lançado há dois anos, inclusive com edição brasileira num tempo de escassez dos CDs físicos.

Ocean Child é muito interessante para os que, como eu, admiram Yoko Ono, acompanham e gostam do trabalho dela. À exceção de David Byrne, não reúne elenco estelar, mas oferece curioso retrato da artista como autora de canções a partir da época em que dividiu discos – ou fez lançamentos simultâneos – com John Lennon.

Neste domingo, 18 de janeiro de 2024, Yoko Ono fez 91 anos. Está morando em Franklin, no Estado de Nova York, e não mais no edifício Dakota, em frente ao Central Park, onde esteve por meio século. Notável artista de vanguarda, Yoko já era Yoko antes de conhecer John Lennon numa galeria em Londres, em 1966.

Nesta segunda-feira, 19 de janeiro de 2024, dedico a coluna a ela, recuperando dois posts. Num deles, me debruço um pouco sobre a sua trajetória. No outro, trago a lembrança do experimental Wedding Album do casal Lennon.

E aproveito para fazer a pergunta tantas vezes repetida desde que os caminhos de John e de Yoko se cruzaram: você odeia ou você ama Yoko Ono?

Yoko Ono conheceu John Lennon em 1966 e foi casada com ele entre 1969 e 1980, quando, aos 40 anos, o músico foi assassinado em Nova York. Yoko já era Yoko, uma notável artista de vanguarda, na época em que se aproximou de John, mas é claro que ganhou – junto com sua arte – muita visibilidade como mulher de um beatle. Foi (e ainda é) odiada por milhões de fãs dos Beatles. Foi (e ainda é) amada por outros muitos milhões. Sempre pertenci ao segundo grupo.

Os Beatles se separaram há mais de cinco décadas, mas milhares de fãs ainda abominam Yoko Ono por atribuir a ela o fim do quarteto. Nunca fiz parte dos que viam a mulher de John Lennon com maus olhos. Sempre achei que ela, como artista de vanguarda, apontou novos caminhos para ele. Alguns, ainda na época do grupo. Outros, depois da separação. Yoko ia para o estúdio com John (as imagens dos documentários Let It Be e Get Back registram) e o influenciava em ousadias como Revolution 9. A tentativa de fazer música avan-garde que temos no White Album certamente não existiria sem Ono, que, embora não creditada, é, de fato, coautora da faixa.

John Lennon era sete anos mais novo do que Yoko Ono. Ele, nascido em outubro de 1940. Ela, em fevereiro de 1933. Os dois, crianças da guerra, conforme assinalava o livro A Balada de John & Yoko, editado há uns 40 anos pela revista Rolling Stone. No momento em que Lennon nasceu, Liverpool era bombardeada pelos alemães. Ono cresceu num país devastado pela guerra. Filha de uma família abastada, criada longe do pai, entre um professor que lhe apresentou a Bíblia e um criado que dava aulas de budismo. No meio, havia um piano. Quando os dois se conheceram, em meados dos anos 1960, Yoko não parecia destinada a se aproximar do universo do rock.

John e Yoko se encontraram em novembro de 1966 na Indica Gallery, em Londres. Ele foi à pré-inauguração da exposição dela. Lennon subiu numa escada que havia no meio da sala, olhou por um pequeno telescópio preso a uma tela pendurada no teto e leu a palavra “sim”. Também estava escrito: pregue um prego. Ele perguntou se poderia fazer isto. Ela disse que não. Afinal, a exposição ainda não estava aberta ao público. A história está no livro da Rolling Stone. E em muitos outros. Lenda ou realidade? Se for lenda, que prevaleça sobre a realidade quando aquela é melhor do que esta.

Antes mesmo que os Beatles acabassem, o casal gravou três discos experimentais. Two Virgins, Life With the Lions e Wedding Album são trabalhos radicalíssimos que se contrapõem ao que John Lennon fazia ao lado de Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Mas que enriquecem a trajetória do artista que ele era. John não era o melhor músico dos Beatles, mas a personalidade mais importante, inquieta, polêmica e controvertida. Yoko desempenhou papel fundamental na consolidação da sua figura pública e do que o mundo guarda da sua memória.

Duramente perseguido e até secretamente investigado pelo governo Nixon, o casal Lennon lutou para permanecer nos Estados Unidos, morando em Nova York, a cidade que seria palco da tragédia: o assassinato de Lennon, na noite de oito de dezembro de 1980.

Yoko conduziu John por caminhos que talvez ele não tivesse trilhado sem ela. Nas exposições, nos filmes experimentais. Mas Lennon também levou Ono para os rocks e baladas do seu universo. O disco duplo Sometime in New York City, de 1972, confirma. É panfletário e ingênuo, mas irresistível. Flagra o casal em seu momento de mais intensa militância política em Nova York. “A guerra acabou, se você quiser”, dizem os versos da canção natalina que ouvimos até hoje. John Lennon foi assassinado em 1980. Yoko envelheceu atuando como artista de vanguarda e cuidando da memória dele.

*****

John Lennon e Yoko Ono oficializaram sua união em março de 1969, numa cerimônia civil em Gibraltar. Ele passou a se chamar John Ono Lennon. Ela, Yoko Ono Lennon. Um disco experimental daquele momento traz John e Yoko fazendo sexo.

O disco, acondicionado dentro de uma caixa e lançado em outubro de 1969, se chama Wedding AlbumÁlbum de Casamento. Nunca foi lançado no Brasil. No início dos anos 1970, ouvíamos numa edição importada. Era sensacional!

Jimi Hendrix, no palco, usava a guitarra para simular o ato sexual. Janis Joplin também fazia a simulação no meio de TryPush on, hold on, move on – dizia Joplin, entre gemidos, num dos números incríveis do seu show.

Com John e Yoko, era sexo mesmo. O lado inteiro de um LP. Batidas de coração que vão ficando mais rápidas. Ele a dizer “Yoko!”. Ela a dizer “John!”. Vozes que vão ficando mais intensas até o orgasmo.

*****

Fecho com dois momentos da música de Yoko Ono. Em Why, os gritos da artista de vanguarda se encontram com o rock de Lennon. Em Hard Times Are Over, uma das faixas de Double Fantasy, último álbum do casal, a letra diz que os tempos duros chegavam ao fim, quando, na verdade, estavam só começando.

Yoko grita: WHY, 1970

Yoko canta: HARD TIMES ARE OVER, 1980

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *