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RETRO2023/Os Paralamas do Sucesso

Who’s Next é um álbum de 1971. Para muita gente, é o melhor disco da banda inglesa The Who, melhor até do que os clássicos Tommy e Quadrophenia. Baba O’ Riley é sua faixa de abertura.

Pois é a introdução de Baba O’ Riley que o público ouve quando as luzes da plateia se apagam e a banda vai entrando no palco. A banda é o power trio Os Paralamas do Sucesso (Foto/Reprodução YouTube), comemorando 40 anos de estrada com a turnê Paralamas Clássicos, que, em outubro, passou por João Pessoa no Teatro Pedra do Reino.

O som do Who é forte e poderoso, e a gente se pergunta como será a entrada do grupo ao vivo. Mas o som dos Paralamas se sobrepõe em volume, peso e concisão. Dá uma verdadeira pancada no espectador, abrindo um impecável set list retrospectivo que se estenderá por cerca de 100 minutos.

Está tudo lá: Alagados, O Beco, Perplexo, O Calibre, Meu Erro, Lanterna dos Afogados, Aonde Quer Que Eu Vá, Seguindo Estrelas, Vital e Sua Moto, Óculos, Ela Disse Adeus, A Novidade, Melô do Marinheiro, Tendo a Lua, Lourinha Bombril, Caleidoscópio.      

Herbert Vianna, 62 anos, guitarra e voz. Bi Ribeiro, 62 anos, baixo. João Barone, 61 anos, bateria. No palco, o trio vira sexteto com o acréscimo de João Fera (teclados), Monteiro Jr. (saxofone) e Bidu Cordeiro (trombone). João Fera, o mais antigo (está com a banda desde 1986), completou 70 anos três dias antes do show.

Paralamas Clássicos é um álbum de fotografias. Elas contam uma história. Penso que a melhor e mais bem sucedida entre todas as histórias daquela geração que produziu rock no Brasil dos anos 1980, ali no momento em que a ditadura militar estava morrendo e o país se preparava para a reconstrução da democracia.

Mas é preciso falar em ditadura e democracia num show retrospectivo dos Paralamas do Sucesso? É, sim, porque, no que cantam, eles dão conta disso. A geração censurada pelo regime militar (Chico Buarque, etc.) fez a crítica possível sob o regime militar. A geração do rock dos 80 fez a crítica necessária na democracia que reaprendia a ser democracia.

Interessante que as letras de conteúdo social e político dos Paralamas estão sobrevivendo à passagem do tempo. Mesmo que a menção ao filme de Godard censurado pelo governo Sarney esteja datada, os comentários sobre violência e desigualdade continuam valendo. Positivo para a banda, por sua permanência, negativo para o Brasil, que não consegue resolver seus problemas cruciais.

Foi Gilberto Gil, na década de 1980, que me disse que os Paralamas eram muito bons e que eu precisava vê-los ao vivo. Fui, constatei e passei a prestar atenção neles. Também foi Gil que me disse que se via, jovem, em Herbert Vianna e que via Caetano, jovem, em Cazuza. Gil, que logo seria parceiro de Herbert em A Novidade.

No início, os Paralamas lembravam um bocado o Police. A sonoridade, o ritmo. Depois, foram fazendo a caligrafia própria, se abrasileirando sem deixar de ser uma banda de rock, e consolidando essa assinatura elegante que ostentam quando vão para os estúdios ou quando sobem aos palcos.

“O trajeto entre um ponto {Cinema Mudo, o álbum de estreia} e outro {Sinais do Sim, o álbum mais recente} é a história dos Paralamas contada em forma de música”, diz Eduardo Lemos no material de divulgação do show. É tradução fidelíssima do que vimos no palco nesse show retrospectivo dos 40 anos do grupo de Herbert, Bi e Barone.

Ver os Paralamas de perto é sempre uma experiência muito prazerosa. O tempo os faz cada vez melhores, é o que a gente sente diante de um show como esse que passou por João Pessoa. 30 músicas sintetizam a trajetória deles numa performance na qual as execuções são tão precisas quanto arrebatadoras.

Fico com a imagem do álbum de fotografias. Cada música traz a fotografia de um momento que nasce particular e vira coletivo. A reunião dessas músicas compõe um filme. O filme dos Paralamas do Sucesso engrandece a música popular do Brasil.

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