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Mônica Salmaso seduz o público com voz, repertório e uma graça irresistível

Vou falar sobre o show de Mônica Salmaso (Foto/Divulgação/Lorena Dini) no Seis e Meia, mas começo com uma lembrança de Antônio Barreto Neto, mestre da crítica de cinema na Paraíba. “Barreto, esse filme é bom?” – na juventude, costumava perguntar a ele quando me via diante da oportunidade de ver pela primeira vez um clássico. Ao que ele prontamente respondia, referindo-se ao cineasta: “Fulano não sabe fazer filme ruim, só sabe fazer filme bom”.

Já contei essa história a Mônica Salmaso, e ela nem deve lembrar porque ouve muitas histórias em suas viagens. Mas contei porque a fala de Barreto me remete a Mônica. Não pergunte se o disco dela é bom. Não pergunte se o show dela é bom. Não carece. Mônica Salmaso só sabe fazer bem feito. E bem feito ainda é pouco. Sendo mais preciso: muitíssimo bem feito.

No meu acervo, tenho todos os seus álbuns. Do primeiro – bela releitura dos afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes – ao mais recente, no qual se debruça sobre o repertório de Milton Nascimento junto com o pianista André Mehmari. Em uma dezena e meia de discos, não há um erros. Só há escolhas acertadas. De 1997 até aqui, Mônica edificou uma discografia absolutamente exemplar, preciosa e essencial.

Trabalhou com extraordinária dedicação em cima da sua visão da música popular brasileira. Uma visão rica, singular e muito refinada, que vai dos autores já clássicos aos contemporâneos. Uma visão na qual não cabem concessões, apenas o que ela quer cantar, do jeito que quer cantar, com as formações que lhe parecem as melhores e as mais adequadas.

Vi Mônica ao vivo com diversas formações. Num show muitíssimo bem planejado e produzido como era Corpo de Baile, subia ao palco com o grupo Pau Brasil e seus múscos excepcionais. Com o Quinteto da Paraíba, fazia um recital marcado por saborosa informalidade. Com Chico Buarque, teve a alegria de fazer turnê com nosso grande compositor  e ser acompanhada pela incrível banda de Chico.

Nesta quinta-feira, sete de dezembro de 2023, encerrou no Teatro Paulo Pontes a atual temporada do Seis e Meia ao lado dos músicos Teco Cardoso (sax e flauta) e Paulo Aragão (violão). Nós, na plateia, mais uma vez nos vimos diante dessa grande cantora que é Mônica Salmaso. No palco, ela conquista o público com a beleza da voz e do repertório, mas também com as deliciosas histórias que conta e com uma graça irresistível.

O show do Seis e Meia teve set list montado a partir de dois compositores sobre os quais Mônica se debruçou durante a pandemia: Wilson Batista e Edu Lobo, grandes autores de tempo e cenário distintos. O recital permite, portanto, um diálogo muito interessante entre a tradição do samba do Rio de Janeiro que há em Wilson e a modernidade da segunda geração da Bossa Nova & além que há em Edu.

Momentos a destacar? Há vários. Mas registro Acertei no Milhar, clássico do samba de breque que traz a lembrança de Moreira da Silva, e Sobre Todas as Coisas, melodia belíssima de Edu, letra genial de Chico, em interpretação soberba de Mônica já no final do programa. Muito bonito ouvir Mônica fazendo O Cantador, essa toada tão evocativa da era dos festivais, da parceria de Dori Caymmi com Nelsinho Motta.

Em artigo recentíssimo, Mauro Ferreira expôs ideias sobre o conceito de MPB, lembrando a criação da sigla e o seu significado para caracterizar a geração de autores e intérpretes projetados na década de 1960. O crítico chega à conclusão de que hoje, se há alguém que se enquadra nesse conceito, é Mônica Salmaso. Não vou me aprofundar no debate, mas achei justo com com ela por colocar a artista em altíssimo patamar. É o lugar de Mônica Salmaso.

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