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Wellington Farias era Wellington Fodinha e não Língua de Tesoura

O jornalista Wellington Farias morreu nesta segunda-feira, 16 de outubro de 2023. Tinha 67 anos e lutava corajosamente contra um câncer que começou na bexiga e se espalhou pelo seu corpo.

Começo lembrando que Wellington Farias era Wellington Fodinha, jamais Língua de Tesoura, como alguns se referem a ele. Língua de Tesoura era como Fabiano Gomes o chamava durante suas participações no Correio Manhã, mas não é justo com o Fodinha que ele conquistou por seu espírito de repórter aguerrido e que acabou se incorporando ao seu nome.

Conheci Fodinha em 1972. Eu, 13 anos, fazia o ginásio no Colégio Estadual de Jaguaribe, e ele, 16, morava em frente à escola. Fui atraído pelo violão que tocava. Nós dois, já muito interessados em música. Ele, estudando o instrumento. Eu, tentando tocar de ouvido.

O encontro seguinte foi no escritório que A União tinha na Praça 1817, lá pela segunda metade da década de 1970. Eu, com Antônio Barreto Neto como guru, tentando ser crítico de cinema. Ele, começando na reportagem, sob a exigente chefia de Frutuoso Chaves.

Fomos colegas na redação de A União na virada da década de 1970 para a de 1980, no tempo em que o jornal oficial funcionava na João Amorim, por trás do Bompreço de Jaguaribe. O editor era Agnaldo Almeida, que nos deu lições para o resto das nossas vidas profissionais.

O Fodinha desse período em A União ficou na minha memória através de uma entrevista que fez com Tancredo Neves. A ditadura militar começava a viver seus estertores, e Tancredo, o admirável político mineiro, avisava: “Viveremos dias de turbulência”. Creio que foi capa do Jornal de Domingo, inesquecível caderno semanal criado por Agnaldo Almeida.

Também foi em A União que Fodinha assinou a matéria na qual revelava que a letra de Força Verde não era de Zé Ramalho, mas a reprodução de um poema do irlandês William Butler Yeats publicado numa revista do Incrível Hulk.

Wellington Farias era essencialmente um repórter. Gostava de cultura, gostava de política. Era firme, corajoso, destemido, digno, honesto. Era muito fodinha, a despeito de ser tão tímido.

Fora dos jornais ou das emissoras de rádio nas quais atuou, nunca largou a música. Era ouvinte sensível dos clássicos e dos populares e teve no violão um companheiro permanente. Em Serraria, a cidade onde nasceu, fez um belo trabalho junto à comunidade, dando aulas de música a jovens conterrâneos.

Walter Galvão em 2021, Gil Sabino em 2022, Juca Pontes e Ricardo Anísio em 2023. A eles, junta-se agora Wellington Farias. São perdas geracionais que falam da nossa finitude.

Há uns 10 anos, num conversa casual dentro de uma livraria, Fodinha foi o primeiro a me falar explicitamente sobre cenários que se aproximavam da gente. O primeiro, a aposentadoria, a hora e botar o pijama. O outro, a morte, que agora veio ao seu encontro.

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