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Ricardo Anísio morreu aos poucos

Ricardo Anísio (Foto/Arquivo familiar) morreu neste domingo, 17 de setembro de 2023. Tinha 64 anos e estava no Hospital Padre Zé tratando uma pneumonia. Nos últimos anos, o jornalista enfrentou um processo de perda de memória associado a um severo quadro depressivo, fatores que o afastaram do convívio social.

Para mim, a morte de Ricardo Anísio é perda geracional. Como foram perdas geracionais as mortes de Walter Galvão, em 2021, de Gil Sabino, em 2022, e de Juca Pontes, agora em 2023. Convergindo ou divergindo, nós quatro atuamos nas mesmas trincheiras do jornalismo cultural a partir da década de 1970. Ricardo tinha somente dois meses a mais do que eu.

Ricardo Anísio não conseguiu gerir uma série de perdas. A primeira, de Seu Rodrigo, o pai. Era uma grande referência em sua vida. Mais tarde, a mãe e uma irmã muito querida. As duas, com um pequeno intervalo. Lembro de tê-lo encontrado na seção de CDs das Lojas Americanas, e dele ouvir a pergunta: “Soube da tragédia que se abateu sobre nossa família?”.

Houve também a “morte” profissional. Ricardo escreveu um artigo dizendo porque não votava num candidato. Este ganhou a eleição, e o jornalista nunca mais conseguiu se reinserir no mercado de trabalho. Perseguição política? Não vou afirmar que isso ocorreu, mas é possível que sim.

Trabalhamos juntos em 2009 e 2010 em A União. Eu era o editor do jornal, Ricardo atuava na editoria de cultura. À época, passamos a frequentar a Livraria Cultura, no Recife. Nós dois, Juca Pontes e Lauriston Pinheiro, que era o homem do marketing da Rede Paraíba – programa que se repetiu até 2015, quando a livraria entrou em decadência e a memória de Ricardo já estava muito comprometida.

Nossos últimos encontros foram na Livraria Leitura, em João Pessoa. Tão triste quanto a perda da memória, era que ele enfrentava o estágio em que o paciente sabe o que está acontecendo e parece ter consciência de que o processo é mesmo irreversível.

Como jornalista, Ricardo Anísio se destacou fazendo crítica musical. Era muito respeitado pelos leitores que concordavam com a defesa que, sob uma ótica nacionalista, fazia da música popular brasileira. Em sua coluna, não poupava a bossa nova, Tom Jobim e Caetano Veloso. Na intimidade, não escondia que gostava de rock e tinha profunda admiração por Bob Dylan.

A doença tirou de Ricardo Anísio o que ele construíra como profissional do jornalismo. Os últimos anos da sua vida foram muito tristes. Servem para as reflexões de todos nós, que não imaginamos como serão os nossos. Nem como, afinal, morreremos.

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