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Filho diz que pai ‘não dormiu com dor’ após procedimento oftalmológico em Campina Grande

Hospital de Clínicas de Campina Grande. Reprodução/TV Paraíba

Familiares de pacientes que relataram sofrer infecções nos olhos após um mutirão de procedimentos oftalmológicos realizado no Hospital de Clínicas de Campina Grande, Agreste da Paraíba, deram detalhes sobre o que teria acontecido. Órgãos como a Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB) e o Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) acompanham o caso.

Michell Ferreira Pereira é filho de um dos pacientes que passaram pelo mutirão e que, agora, está sem enxergar. Ao g1, ele relatou que o pai precisou passar pela aplicação de uma medicação ocular para tratar uma retinopatia diabética. O tratamento já havia sido feito outra vezes.

Segundo Michell, ainda na última quinta-feira (15), dia em que foi atendido no mutirão, o pai dele reclamou de dores no olho e notou diferença na realização do procedimento em comparação com as outras aplicações que já tinha feito.

“No dia ele me relatou que doeu muito a aplicação, [das outras vezes] doía mas ele disse que não tanto como essa última vez. Ele relatou também que as outras médicas sempre pediam para ele olhar para baixo, e dessa vez, pediram para ele olhar para os lados e houve duas aplicações. Só tinha uma aplicação, e dessa vez foi duas”, disse Michell, filho de um dos pacientes que estão sem enxergar após mutirão oftalmológico em Campina Grande.

Ainda de acordo com Michell, na sexta-feira (16), um dia depois do procedimento, o pai dele chegou a trabalhar, mas no sábado (20) começou a sentir dor, vermelhidão e irritação no olho.

“Na quinta-feira houve a aplicação, na sexta ele trabalhou normal só que no sábado ele começou a sentir como se tivesse areia no olho. O olho começou a ficar mais vermelho, irritado, ele não conseguiu dormir com dor”, relatou.

No domingo (18) a situação se agravou e o paciente já não conseguia mais enxergar. Foi quando Michell levou o pai para uma clínica oftalmológica em João Pessoa para passar por exames, que não detectaram o problema.

A família voltou para Campina Grande e levou o paciente foi até o Hospital de Emergência e Trauma da cidade. Na unidade, profissionais de saúde informaram que outros pacientes com o mesmo problema, que também haviam sido atendidos no mutirão oftalmológico feito no Hospital de Clínicas, também estavam sendo atendidos na unidade.

“Voltamos para Campina Grande, fomos no Trauma e lá a médica informou que já tinha atendido outras pessoas. Ele está fazendo um tratamento de retinopatia diabética”, explicou.

O pai de Michell deve ser encaminhado para uma clínica em João Pessoa. O tratamento que ele faz é necessário para pacientes diabéticos diagnosticados com retinopatia diabética, complicação da doença que afeta a retina e pode ocasionar a perda da visão. A aplicação do medicamento pode desacelerar e até inibir totalmente a perda ocular.

Em nota enviada ao g1, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB) afirmou que acompanha o caso. Segundo o CRM-PB, nenhuma denúncia formal chegou à Comissão de Ética Médica do órgão, mas mesmo se não houver denúncia, uma sindicância de ofício será aberta para apurar e responsabilizar cada um.

Entenda o caso

Pacientes que participaram de um mutirão oftalmológico realizado na última quinta-feira (15), no Hospital de Clínicas de Campina Grande, denunciaram complicações graves nos olhos após os procedimentos. A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB) informou que quatro pacientes apresentaram desconfortos e que foi instaurado um processo administrativo para apurar o caso.

De acordo com as denúncias, que começaram a ser veiculadas nesta segunda-feira (19), já no fim de semana seguinte ao mutirão, diversos pacientes procuraram atendimento em outras unidades de saúde relatando dores intensas e sinais de infecção ocular.

Um dos casos de pacientes infectados é o de uma idosa de 89 anos, que perdeu completamente a visão de um dos olhos após o procedimento. Segundo a família, a paciente, que tinha um edema macular, vinha apresentando melhora com as aplicações mensais.

O filho da paciente, Inácio Quaresma Neto, relatou que a mãe vinha fazendo o tratamento há cerca de cinco meses no olho esquerdo, com o objetivo de recuperar a visão comprometida pelo embaçamento.

Outro paciente, do município de Picuí, relatou à TV Paraíba que também desenvolveu sinais de infecção ocular e, segundo familiares, deve passar por um procedimento cirúrgico de urgência no Help, que é um hospital filantrópico, nesta segunda-feira (19).

O g1 procurou as autoridades de saúde para esclarecer o caso. A Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB) explicou ao g1, por meio de nota, que está apurando possíveis irregularidades em cirurgias oftalmológicas e que os procedimentos foram executados pela empresa Fundação Rubens Dutra Segundo, contratada pela SES, sendo os profissionais e o fornecimento de materiais utilizados durante as intervenções de responsabilidade exclusiva da empresa.

A SES ainda informou que dos 64 pacientes submetidos às cirurgias, quatro apresentaram desconfortos persistentes durante o período de recuperação, com suspeita de baixa ocular. Em razão disso, a SES instaurou processos administrativos para investigar as responsabilidades da empresa e apurar as condutas adotadas no caso.

O Help, hospital filantrópico, informou também por meio de nota que “atende exclusivamente os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de regulação” e que “recebeu dois pacientes com demandas oftalmológicas, devidamente encaminhados pelas autoridades competentes”.