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Quem foi Argemiro de Figueiredo, governador da época em que piso de suásticas foi instalado no Palácio da Redenção

Argemiro de Figueiredo. Esse é o nome que muitos paraibanos se deparam em alguns locais conhecidos das principais cidades no estado. Em Campina Grande, por exemplo, essa é a nomenclatura do Terminal Rodoviário do município, na capital João Pessoa, é o nome de uma das mais importantes avenidas da cidade, localizada próxima à orla. 

No entanto, por trás dos nomes desses lugares está a figura política do governador Argemiro de Figueiredo, que foi governador e posteriormente interventor na Paraíba no período de 1935 a 1940, época em que o Brasil passava pela Era Vargas, os anos de governo de Getúlio Vargas. 

O Jornal da Paraíba fez um levantamento sobre a história de Argemiro de Figueiredo, um dos principais políticos no estado e que está no centro da polêmica da instalação de um piso de suásticas no Palácio da Redenção, que aconteceu durante seu governo. 

Político desde cedo 

Antes de ingressar na vida política, Argemiro se formou em Direito no Recife – Foto: TV Cabo Branco

Argemiro de Figueiredo nasceu em Campina Grande no dia 9 de março de 1901 e desde pequeno teve influência do pai Salvino Gonçalves de Sousa Figueiredo na atuação política, isso porque durante 20 anos o pai foi chefe da oposição a Cristiano Lauritzen, um dos principais nomes da cidade à época. 

Além da influência do pai, Argemiro também teve outros políticos importantes na família. Sua mãe, Luísa Viana de Figueiredo, era descendente da tradicional família paraibana Borges da Fonseca e prima em segundo grau de Aristides Lobo, que participou da proclamação da República. Seu avô materno, Bento José Alves Viana, foi deputado federal na República Velha.

Com essa estrutura política dentro da família e tendo cursado Direito em Recife a partir do ano de 1922, ainda na graduação chegou a participar da Reação Republicana, movimento que promoveu a candidatura de Nilo Peçanha à presidência da República, em oposição à do candidato oficial Artur Bernardes, que acabou sendo eleito. 

Depois de formado, voltou para Campina Grande e em 1928 foi peça fundamental para a fundação estadual do Partido Democrático. Com o partido fundado, um ano depois, conseguiu se eleger ao cargo de deputado estadual. 

Argemiro apoiador de Getúlio Vargas

Argemiro de Figueiredo era aliado de Getúlio Vargas durante a década de 1930 – Foto: TV Cabo Branco

Com a chegada da década de 1930 e a entrada oficial em cargos políticos, Argemiro de Figueiredo participou ativamente do movimento da Aliança Liberal, que apoiava Getúlio Vargas na candidatura à presidência da República, em oposição ao candidato Júlio Prestes. 

Nas eleições de março de 1930, o vencedor do pleito acabou sendo Júlio Prestes, mas setores da Aliança Liberal, com participação de Argemiro, apoiaram articulações para impedir a posse do eleito, culminando no golpe que empossou Getúlio Vargas como chefe de Estado brasileiro, conhecido como Revolução de 30. 

Em 1932, o interventor da Paraíba, Antenor Navarro, morreu e depois foi substituído por Gratuliano de Brito, que indicou Argemiro de Figueiredo para a Secretaria do Interior e Justiça no estado. Posteriormente, assumiu interinamente o governo estadual após uma licença de Gratuliano de Brito, e indicou Ernesto Geisel, que anos depois virou ditador durante o regime militar, como secretário de Finanças. 

Em 1933 foi um dos responsáveis por fundar o Partido Progressista (PP) na Paraíba, sendo presidente da sigla. Dois anos depois, o partido lançou a candidatura de Argemiro para governador, que foi empossado no cargo em 25 de janeiro daquele mesmo ano. 

Com o Congresso Nacional sendo fechado e interrompido o processo sucessório das eleições que estavam previstas para 1938, com o golpe de Getúlio Vargas, foi implementado o Estado Novo. Sob o regime ainda mais intenso de Vargas, o presidente do Brasil manteve Argemiro de Figueiredo no poder na Paraíba, o declarando como interventor estadual. 

Antes como governador e no período de Vargas como interventor, Argemiro ficou conhecido por algumas políticas na Paraíba. Foi reconhecido pelo fomento à lavoura de algodão, fundamental para o estado, e incentivou a diversificação da agricultura, sobretudo com relação ao cultivo de cana-de-açúcar, mamona e arroz. Em abril de 1936 inaugurou a Escola de Agronomia da Paraíba, além de outras obras importantes para o estado. 

Em 16 de agosto de 1940, Argemiro de Figueiredo foi afastado da intervenção paraibana por conta da forte oposição que Epitácio Pessoa exercia no estado e da grande influência junto ao poder do governo nacional. Vargas nomeou para o lugar de Argemiro, Rui Carneiro. 

Após o período como governador, Argemiro foi deputado federal pela Paraíba de 1946 a 1951, posteriormente assumiu o cargo de senador entre os anos de 1955 e 1963, sendo reconduzido para o cargo até 1971, já durante a ditadura militar. 

Durante a época do regime militar, com a instauração do Ato Institucional Número 2 que determinou a extinção de partidos políticos e o bipartidarismo, Argemiro se filiou ao MDB e viveu na política até 1971, quando se distanciou dos cargos e posteriormente, em 1982, veio a falecer. 

Suásticas no Palácio da Redenção

Pisos com suásticas foram instalados no primeiro ano de Argemiro de Figueiredo como interventor da Paraíba – Foto: Arquivo Jornal A União

Um dos episódios mais controversos do período de governo de Argemiro foi a instalação de um piso com suásticas em 1937, mesmo ano em que Getúlio o declarou interventor na Paraíba, no Palácio da Redenção, localizado em João Pessoa. 

Construído em 1585, o Palácio da Redenção foi residência oficial do governador da Paraíba e hoje é a sede do poder executivo estadual (apesar de estar em reforma para abrigar, além do gabinete do governador, um museu).

Uma das versões históricas sobre a instalação dos ladrilhos com suásticas é do historiador José Octávio de Arruda Melo, no livro “Os Italianos na Paraíba”. Segundo o escritor, os ladrilhos foram instalados durante reformas solicitadas pelo então governador Argemiro de Figueiredo. 

Inicialmente, o escritor afirmava que o arquiteto Márcio de Lascio presenciou a instalação dos ladrilhos e disse que os símbolos representavam suásticas gregas, sem qualquer ligação com o nazismo. Porém, em uma nova edição do livro, o historiador considerou que os fatos não permitem essa conclusão.

Ele se baseou na posição de liderança do arquiteto Giovanni Gioia, apontado como o responsável pela instalação dos ladrilhos com suástica, na organização da ala militante do fascismo italiano na Paraíba, participando de um grupo que divulgava as ideias de Mussolini, seja por meio de livros, revistas, palestras e até por meio do ensino do idioma italiano. Ele também afirma que o arquiteto “fazia-se partidário da aliança da Itália de Mussolini com a Alemanha de Hitler”, após a celebração do Pacto de Aço.

Pisos com suásticas foram instalados em 1937 no Palácio da Redenção – Foto: Arquivo Jornal A União

A historiadora Loyvia Almeida disse que antes do nazismo, a suástica era característica dos antigos povos da Índia, China e outras civilizações. Segundo ela, Hitler teria se apropriado do símbolo a partir da instauração do nazismo, o que mudou o significado do símbilo suástica com o passar do tempo. 

“A partir da década de 1930, a suástica tem seu significado repaginado e dotado de um novo sentido. Era natural que esse novo significado se espalhasse pelo mundo, principalmente entre os países, escritores, políticos e etc, que defendiam minimamente o nazi-fascismo como uma saída viável à crise que se inaugurou a partir de 1929”, explicou.

A historiadora também disse que não há um consenso sobre qual o papel do ex-governador na instalação das peças. Ela estudou durante seu mestrado o governo de Argemiro de Figueiredo e explica que não é possível afirmar que o gestor tinha ligação com a ideologia nazista, mas avalia que ele possuía uma “certa simpatia” com o governo de Hitler.

Em sua tese de mestrado, a pesquisadora destaca que os discursos e características administrativas de Argemiro de Figueiredo sofreram influências nazi-fascistas. Loyvia afirma que assim como outros intelectuais e políticos da época, o gestor reconheceu esses governos autoritários como o modelo “ideal”.

“O contexto histórico era de ascensão e sucesso do nazismo. Hitler conseguiu tirar a Alemanha da bancarrota, Mussolini inaugurou um tipo de governo corporativo e centralizador, isso repercutiu no mundo inteiro. A própria ideologia varguista tinha influências fascistas”, explicou a historiadora. “A influência era inegável, afinal o nazi-fascismo estava ‘na moda’”, concluiu.

Em relação às políticas de fomento à lavoura de algodão, que caracterizou o período de governo de Argemiro de Figueiredo na Paraíba, a pesquisadora disse que o estado tinha como um dos maiores compradores de algodão justamente os alemães, o que acabou ocasionando a visita de representantes do Governo Nazista à Paraíba. Na pesquisa de Loyvia Almeida, ela ressalta ainda que uma publicação no Jornal A Voz da Borborema, em 27 de novembro de 1937, diz que a visita dos alemães naquela época tinha como finalidade supervisionar a troca comercial entre o estado e a Alemanha nazista.

Piso com suástica foi retirado somente em 1995, no governo de Antônio Mariz – Foto: Arquivo Jornal A União

Somente em 1995, os ladrilhos instalados em 1937 foram retirados do Palácio da Redenção por ordem do governador Antônio Mariz. 

O governador Antônio Mariz decidiu retirar os ladrilhos com suásticas em fevereiro de 1995, no segundo mês do seu curto governo. Em entrevista ao programa de rádio “A Voz da Cidadania”, registrada em matéria do Jornal da Paraíba, o gestor defendeu a decisão afirmando que “o Palácio da Redenção não pode ser vitrine de nenhum pensamento ideológico”.

Os ladrilhos com as suásticas deverão compor o acervo do Museu de História da Paraíba, que será instalado no palácio em um futuro próximo, mas ainda incerto. Gerente operacional do museu e responsável pelo plano museológico, o artista Chico Pereira, confirmou que pretende exibir as peças em uma sessão que conta a história do palácio.

*com informações de g1 e Fundação Getúlio Vargas

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