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RETRO2023/Glória Maria

Ícone do jornalismo brasileiro, Glória Maria morreu no início de 2023. Ela é personagem dessa retrospectiva que estou fazendo aqui na minha coluna.

A foto que ilustra a coluna é da entrevista que Glória Maria fez com Michael Jackson quando o astro pop esteve no Rio de Janeiro para gravar um vídeo. Poderia ser com Madonna, ou Freddie Mercury, ou Elton John, ou Mick Jagger. Afinal, a jornalista da Globo, que nos deixou neste dois de fevereiro de 2023, entrevistou todo mundo, de pessoas anônimas com quem cruzou nas ruas do Rio em suas reportagens até as maiores celebridades em escala planetária. Poderia ser também das proezas que cometeu e dos riscos que correu ao ser personagem de matérias que fez dentro e fora do Brasil.

Personagem. Glória Maria era isso. Ou se transformou nisso. Ao criar um estilo muito singular de fazer reportagens na televisão, ela foi mais do que uma grande repórter. Foi protagonista, mesmo que ser protagonista destoasse dos manuais de reportagem. No caso de Glória, não importava porque o estilo era invenção sua, a assinatura era sua, o extraordinário coloquialismo era seu. Ela quebrou toda a rigidez numa época em que o padrão Globo era muitíssimo rígido. Com apresentadores, com repórteres, com comentaristas, com cinegrafistas. Com todos, menos com Glória Maria, um ser corajosamente indomável.

Glória Maria se afirmou num tempo em que o jornalismo era totalmente dominado por homens. Mulher e preta num país racista como o Brasil. Racista e sob uma ditadura militar que fazia desaparecer, torturava e matava os que a ela se opunham. Glória se fez nesse ambiente e conquistou seu espaço graças ao talento que tinha, à intuição, ao incrível senso jornalístico, ao espírito obstinado a conseguir ser o que podia parecer pouco provável, talvez impossível. Por tudo o que fez, se transformou num modelo, num exemplo, numa referência. E inspirou garotos e garotas, sobretudo pretos e pretas, como se a eles e elas estivesse dizendo: “Vocês conseguirão!”.

Após a notícia da sua morte, muitos trataram Glória Maria como um ícone do jornalismo brasileiro. Foi mais. Foi um ícone do Brasil, disse com justiça uma anônima no Jornal Nacional. Repórter de televisão por excelência, Glória Maria representou os jornalistas, sendo popularíssima no exercício da sua profissão, e representou as mulheres, as pretas e os pretos brasileiros – e o fez sem que fosse necessário qualquer ativismo. Bastava que fosse ela, Glória, livre, sendo beijada por Michael Jackson ou Mick Jagger, fazendo grandes peripécias em suas aventuras, fumando a maconha que, na Jamaica, tem significado religioso.

Na cobertura da morte de uma pessoa como Glória Maria, muita coisa emociona a gente. Às vezes, as pequenas coisas emocionam mais do que as grandes. Fiquei particularmente tocado pela homenagem que a repórter Karla Lucena, voz embargada, lágrimas nos olhos, fez durante uma entrada ao vivo na GloboNews. Karla, preta, 37 anos, fez de improviso um agradecimento a esta Glória da vida. O bonito na breve fala era a plena consciência de que, sem uma, talvez a outra não estivesse no lugar em que está.

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