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RETRO2023/Gilberto Gil in concert

Mais um texto da minha Retrospectiva 2023. Agora, o que escrevi quando vi Gilberto Gil em abril no Teatro Pedra do Reino.

Há 48 anos, quando vi Gilberto Gil ao vivo pela primeira vez, ele terminava o show cantando Back in Bahia e tocando guitarra. Esse rock-embolada dava conta do seu exílio em Londres e da volta ao Brasil. Em 2023, Back in Bahia é revisitado com uma irresistível pegada rocker do neto João à guitarra. Da plateia, anonimamente gritei: “Chuck Berry Fields Forever!”, como comentário sobre Berry, esse mestre fundador do rock e da guitarra. E, no palco, Gil repetiu: “Chuck Berry Fields Forever!”.

Há 48 anos, como agora, havia Expresso 2222 no set list. Mas ainda não havia Esotérico, Toda Menina Baiana, Palco, Andar com Fé, Drão, Extra, Tempo Rei, Vamos Fugir, Estrela. Estavam todas por nascer e, aos poucos, se incorporariam a uma extensa antologia autoral de Gil. Gilberto Gil in Concert, que vimos neste 13 de abril de 2023 no Teatro Pedra do Reino, junta todas essas numa espécie de autorretrato desse imenso compositor brasileiro. E, na minha memória afetiva, constrói um longo caminho que começa em 1975 no Teatro Santa Roza.

Um número me emocionou sobremaneira: Viramundo. É de meados da década de 1960 e está no admirável filme Viramundo, de Geraldo Sarno, de tantas exibições e debates cineclubistas. Foi a primeira vez que vi Gil fazer essa música ao vivo. Ela me toca por sua beleza e pelo quanto tem de evocativa de uma época. Mas também me chama atenção pela permanência e atualidade da sua letra. “Ainda viro este mundo/Em festa, trabalho e pão” valia tanto no Brasil de 1965 quanto vale nesse agora de 2023, com seus milhões de famintos e suas imensas desigualdades.

O show de Gilberto Gil me falou muito sobre o tempo. Há 48 anos, naquela noite no velho Teatro Santa Roza que, em seu interior, invoca uma embarcação do Mississipi, Gil estava a dois meses de completar 33 nos, e eu, 16. Agora, ele está a dois meses de fazer 81, e eu, 64, que é a idade mencionada naquela canção dos Beatles. Em 1975, não havia os filhos Bem e José nem o neto João e a neta Flor. Agora, são eles que formam o belo e eficiente quarteto que acompanha o artista em seu concerto.

As fotos que ilustram a coluna são de Silmara Braz. 

Em 1975, Gil tinha somente oito anos de carreira, a contar de Louvação (o álbum de estreia) ou do ano de 1967, no qual conquistou dimensão nacional cantando Domingo no Parque num festival de MPB. Em 2023, tomando as mesmas referências, são 56 anos, tempo em que Gil se consolidou como um dos mais importantes compositores de canções populares do Brasil e um dos grandes representantes da brilhante geração de artistas projetados a partir dos anos 1960. Tempo em que Gil se tornou esse imenso brasileiro que ele é.

No show de agora, Gil visita outros autores em escolhas muito interessantes. Há o Jorge Mautner de Maracatu Atômico. Mautner, amigo e parceiro desde o exílio em Londres. Há o Edu Lobo de Upa Neguinho. Edu, extraordinário compositor, um contemporâneo que sempre se manteve distante dos caminhos tropicalistas de Gil e Caetano Veloso. Há o paraibano Jackson do Pandeiro do samba-rock Chiclete com Banana. Jackson, cujo canto sincopado influenciou Gil e um monte de cantores brasileiros.

E há, por fim, dois mestres do nosso cancioneiro: o Ary Barroso de É Luxo Só e o Antônio Carlos Jobim de Garota de Ipanema. São dois sambas que, se quisermos, remetem a João Gilberto, porque por este foram gravados. Em Garota de Ipanema, com a letra original de Vinícius de Moraes e a versão em inglês, Gil divide o vocal com a neta Flor, que encanta a plateia. Esse samba bossa nova, que desbancou os Beatles nas paradas, aparece com uma pegada reggae e nos fascina novamente pelo que tem de bonito e por quanto representa o Brasil no mundo.

Gil tem um extraordinário domínio de palco. A primeira parte do show é mais intimista, banquinho e violão. Na segunda, Gil troca o violão pela guitarra e se apresenta em pé. E aí a temperatura vai subindo, no pique das músicas e na comunicação do artista com o público que lotou o teatro, até a apoteose final, já no bis, com Madalena e Toda Menina Baiana. Gosto sempre de dizer – e direi mais uma vez – que, em sua vida de artista e cidadão, Gilberto Gil é uma das grandes belezas do Brasil.

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