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Após 37 anos sem estudar, mulher é aprovada em pedagogia e quer realizar sonho de ser professora

Neocêmia Batista, aprovada em pedagogia no Sisu.. Foto: TV Paraíba/Reprodução.

Após 37 anos sem estudar, Neocêmia Batista retomou os estudos com foco no Enem em 2024. A nota do exame, para o qual se preparou por alguns meses com um cursinho gratuito em casa, fez com que ela realizasse um sonho. Nesta segunda-feira (27), a paraibana de Areial, foi aprovada para o curso de pedagogia pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

“Fiquei muito emocionada. Chorei de alegria quando recebi o resultado do Enem e agora chorei mais ainda por saber que mesmo depois de tanto tempo fora da sala de aula, consegui realizar meu sonho de ingressar numa universidade, e além de tudo pública. Minha idade não me impediu de conquistar meu sonho”, contou com entusiasmo.

Neocêmia terminou o ensino médio em 2023 pelo Encceja (Exame Nacional de Certificação para Jovens e Adultos). Já em 2024, fez o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pela primeira vez. A preparação aconteceu totalmente em casa com um cursinho gratuito, que tinha aulas pela internet. Todo esse esforço é motivo de orgulho para os filhos e toda a família da estudante.

“Eles já estão comemorando desde que fechou as inscrições, quando eu estava na 7ª posição. Domingo passado já me trouxeram – como se eu fosse a filha deles – presentes como bolsa, cadernos, lápis”, lembrou se divertindo.

Entrar na universidade é um novo desafio, que será encarado com ainda mais disciplina. Mas, por enquanto, Neocêmia vive todos os sentimentos bons que a aprovação lhe despertou.

“Estou muito feliz e até orgulhosa de mim mesma, destacou”.

A estudante pensava em cursar pedagogia ou serviço social. Mas o coração sempre bateu mais forte pela sala de aula.

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“Gosto muito de pedagogia. O professor, pra mim, é a base de tudo. Sempre admirei a profissão de professor. Isso eu tinha, mas achava que eu não poderia ser uma professora”, recordou.

Esse pensamento mudou. E ela até já consegue se imaginar nas salas de aula da Universidade Estadual da Paraíba, onde foi aprovada.

“Tô preparada pra estudar. Eu fui comerciante, mas nunca foi meu sonho, eu queria ter uma profissão. Eu vou me sentir Neocêmia. Eu vivi a vida de outras pessoas e agora vou viver a de Neocêmia. Eu vou me realizar sabendo que fiz uma faculdade, que era o sonho da minha vida”, concluiu.

A história de Neocêmia

Neocêmia interrompeu os estudos no último ano do ensino médio, aos 16 anos. Uma greve fez com que as aulas parassem por muitos meses. As atividades só foram retomadas perto do parto. Isso fez com que ela precisasse dar uma pausa. A paraibana lembra com precisão dessa época.

“Ninguém incentivava a gente a estudar, incentivava a ser dona de casa”, recordou.

A paraibana cuidou dos filhos, que agora são todos adultos e formados nas profissões que escolheram.

Com o tempo, a agora estudante também se tornou comerciante e tomou conta de um mercadinho da família.

“O sonho de estudar ficou adormecido, mas eu sempre tive vontade de voltar a estudar. Eu nunca parava de pensar (em voltar a estudar), mas eu me realizei nos meus filhos”, destacou.

Há 10 anos, Neocêmia e o marido deixaram a cidade e se mudaram para a zona rural. E em 2023, a dona de casa conheceu o Encceja (Exame Nacional de Certificação para Jovens e Adultos). Foi assim que concluiu o ensino médio com apenas dois meses de preparação. Em seguida, assistindo a um telejornal local pela manhã, ela conheceu um curso gratuito de preparação para o Enem, oferecido pela rede estadual de ensino.

Quase 40 anos depois de parar de estudar quando casou e engravidou do primeiro filho, Neocêmia Batista voltou a sonhar com a universidade

Preparação para o Enem

O dia de Neocêmia começava cedo. Ela acordava e fazia musculação. Depois, parte para os afazeres domésticos. Arrumava a casa com zelo, cuidava dos animais e preparava o almoço. Depois da louça lavada, chegava o momento de se concentrar nos estudos.

“Sentava no meu cantinho, ia assistir às videoaulas”, explicou.

Após quatro horas estudando, ela preparava o jantar. Em seguida, participava dos estudos orientados com os professores da rede pública, também pela internet, só que em tempo real.

“Sempre abria a câmera, sempre perguntava, sempre questionava”, disse orgulhosa.

As disciplinas favoritas eram sociologia, literatura, filosofia, geografia e história. Já as menos queridas, eram física e química.

Em 37 anos sem estudar, muita coisa mudou. As disciplinas tinham uma nova organização, e os recursos também estavam diferentes.

“Tem disciplinas que eu nunca nem ouvi na época da minha adolescência. Senti muita dificuldade com elas. Mas eu ia lembrando do que estudei devagarinho e tava fluindo, tava aprendendo”, sentenciou.

Já lidar com a tecnologia, não foi uma dificuldade. A estudante não saia do computador, onde assistia videoaulas. Esse era o método favorito dela.

“A tecnologia nos ajuda muito. Eu conseguia aprender mais com o computador, nas videoaulas, do que nos livros. Porque lá (no computador) tem um professor, ele lhe explica direito. E eu sozinha não conseguia assimilar, principalmente matemática”, explicou.