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a culpada injustamente por muitos problemas de saúde



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A tireoide, uma pequena glândula em forma de borboleta localizada na base do pescoço, é frequentemente acusada de ser a culpada por uma série de problemas de saúde.

De ganho de peso a mudanças de humor, muitas pessoas acreditam que qualquer sintoma estranho ou desconfortável pode ser atribuído a essa glândula. Sintomas como cansaço, depressão, ansiedade e até alterações na pele e nos cabelos são rapidamente associados a problemas tireoidianos. No entanto, a realidade é que, embora a tireoide desempenhe um papel crucial no metabolismo e na regulação hormonal, ela nem sempre é a verdadeira vilã.

Essa tendência de culpar a tireoide por vários problemas de saúde pode levar a diagnósticos incorretos e tratamentos inadequados. É essencial entender que, embora as disfunções tireoidianas sejam reais e impactantes, nem todas as queixas de saúde têm origem nesta pequena glândula.

Importância da tireoide

A tireoide é responsável pela produção de hormônios essenciais, principalmente a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3). Esses hormônios regulam o metabolismo, controlando a velocidade com que o corpo utiliza energia. Eles influenciam quase todas as células do corpo, afetando funções como a frequência cardíaca, a temperatura corporal e o ritmo de crescimento e desenvolvimento.

Metabolismo e energia

Os hormônios tireoidianos são os principais reguladores do metabolismo basal, que é a quantidade de energia que o corpo gasta em repouso para manter funções vitais. Eles ajudam a determinar quantas calorias o corpo precisa para manter suas funções diárias. Um nível adequado de hormônios tireoidianos garante que o metabolismo funcione de maneira eficiente, enquanto desequilíbrios podem levar a distúrbios metabólicos significativos.

Crescimento e desenvolvimento

Durante a infância e a adolescência, os hormônios tireoidianos são essenciais para o crescimento e desenvolvimento físico e mental. Eles desempenham um papel crucial no desenvolvimento do sistema nervoso central e no crescimento ósseo. A deficiência de hormônios tireoidianos durante essas fases pode resultar em problemas de desenvolvimento, como o hipotireoidismo congênito, que, se não tratado, pode levar a retardo mental e físico.

Saúde cardiovascular

A tireoide também tem um impacto significativo na saúde cardiovascular. Os hormônios tireoidianos ajudam a regular a frequência cardíaca e a força de contração do coração. No hipotireoidismo, onde há uma produção insuficiente de hormônios, o coração pode bater mais lentamente, levando a bradicardia. No hipertireoidismo, com produção excessiva de hormônios, o coração pode bater mais rápido, resultando em taquicardia e aumento do risco de arritmias.

Saúde mental e emocional

Os níveis de hormônios tireoidianos também afetam a saúde mental e emocional. Desequilíbrios hormonais podem contribuir para a depressão, ansiedade e outros distúrbios do humor. Pacientes com hipotireoidismo muitas vezes relatam sensação de fadiga e depressão, enquanto aqueles com hipertireoidismo podem experimentar nervosismo, irritabilidade e ansiedade.

Doenças da tireóide

Hipotireoidismo

Ocorre quando a tireóide não produz hormônios suficientes. Os sintomas incluem fadiga, ganho de peso, intolerância ao frio, depressão e constipação. A condição pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo doenças autoimunes como a tireoidite de Hashimoto, deficiências nutricionais e tratamentos médicos que afetam a glândula.


Hipertireoidismo

É caracterizado pela produção excessiva de hormônios. Seus sintomas incluem perda de peso, aumento do apetite, insônia, tremores e palpitações. A causa mais comum é a doença de Graves, uma condição autoimune que estimula a tireoide a produzir mais hormônios do que o necessário.

O diagnóstico de doenças da tireóide é feito por meio de exames de sangue que medem os níveis de TSH (hormônio estimulante da tireoide), T4 e T3. O tratamento varia conforme a condição. No caso do hipotireoidismo, a terapia de reposição hormonal com levotiroxina é comum. Para o hipertireoidismo, opções incluem medicamentos antitireoidianos, iodo radioativo e, em alguns casos, cirurgia.

Câncer da tireoide

O câncer de tireoide, embora menos comum que outros tipos de câncer, é uma doença que merece atenção especial devido à sua crescente incidência nos últimos anos. Estima-se que cerca de 1% de todos os casos de câncer diagnosticados anualmente sejam de tireoide, o que o torna um dos cânceres endócrinos mais frequentes.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer da tireoide é o tumor endocrinológico mais comum e ocupa papel importante nos carcinomas de toda região da cabeça e pescoço e afeta cinco vezes mais as mulheres do que os homens. Pela mais recente estimativa brasileira (2023), é o terceiro tumor mais frequente em mulheres na Região Sudeste e na Região Nordeste (sem considerar o câncer de pele não-melanoma).

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas do câncer de tireoide podem variar, mas geralmente incluem:

  • Nódulo ou inchaço no pescoço.
  • Dificuldade para engolir ou respirar.
  • Rouquidão ou mudança na voz.
  • Dor no pescoço ou garganta.

É importante notar que a presença de um nódulo na tireoide nem sempre indica câncer, pois muitos nódulos são benignos. O diagnóstico é feito por meio de exames clínicos, ultrassonografia da tireoide e, se necessário, biópsia por aspiração com agulha fina (PAAF), que permite a análise das células do nódulo.

O tratamento do câncer de tireoide depende do tipo e estágio da doença, além da saúde geral do paciente. As principais opções de tratamento incluem:

  • Cirurgia: A remoção parcial ou total da glândula tireoide (tireoidectomia) é o tratamento mais comum.
  • Terapia com Iodo Radioativo: Utilizada para destruir qualquer tecido tireoidiano remanescente após a cirurgia e para tratar metástases.
  • Terapia Hormonal: Após a tireoidectomia, a reposição hormonal é necessária para substituir os hormônios tireoidianos e suprimir o TSH, que pode estimular o crescimento de células cancerígenas remanescentes.
  • Radioterapia e Quimioterapia: Utilizadas em casos mais agressivos ou quando o câncer se espalha para outras partes do corpo.

O prognóstico do câncer de tireoide é geralmente favorável, especialmente para os tipos papilífero e folicular, quando diagnosticados e tratados precocemente. A taxa de sobrevivência em cinco anos para esses tipos é superior a 90%.

Tireoide e coração

Manter a saúde da tireoide é fundamental para a saúde do coração. Isso inclui uma dieta equilibrada rica em iodo, selênio e zinco, além de evitar o consumo excessivo de alimentos que podem interferir na função tireoidiana, como a soja e vegetais crucíferos em grandes quantidades. O controle regular dos níveis hormonais, especialmente para aqueles com histórico familiar de doenças tireoidianas, é uma medida preventiva importante.

A conexão entre a tireoide e a saúde do coração é profunda e complexa. Problemas na tireoide podem ter um impacto direto no funcionamento cardiovascular, e a detecção e tratamento precoces são essenciais para prevenir complicações graves. Portanto, é fundamental prestar atenção aos sinais que nosso corpo nos dá e procurar orientação médica sempre que necessário. Manter a tireoide saudável é, em última análise, um passo importante para garantir a saúde do coração e uma vida mais longa e saudável.

André Telis de Vilela, é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela UNIFESP e professor da UFPB. Colunista de saúde do Jornal da Paraíba, Tv Cabo Branco e rádio CBN.

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