especialistas alertam sobre riscos para crianças e adolescentes
Os brasileiros usam o celular em média nove horas e 32 minutos por dia e, 39,5% desse tempo nas redes sociais, aponta uma pesquisa feita pela Faculdade Getúlio Vargas. O excesso de telas pode causar prejuízos à saúde de crianças e adolescentes.
Especialistas explicam que o uso desses equipamentos digitais pode causar dependência, aumento do risco de obesidade, diabetes e também problemas na visão.
Segundo o neurocirurgião Luís Severo, para as crianças que ainda estão nos primeiros mil dias de vida ou na primeira infância, é importante que o uso das telas seja restringido.
“A OMS juntamente com a Sociedade Brasileira de Pediatria, elas têm colocado de que os primeiros mil dias, ou mesmo a primeira infância, que vai até ali aos seis anos de idade, é fundamental a gente restringir o tempo de tela, e olha que a restrição de crianças com menos de dois anos é zero minuto de tela”, explicou o neurocirurgião.
Ele comenta que as telas geram estímulos em uma dosagem muito maior que chega ao cérebro como se fosse uma droga.
“Então, ela traz um efeito de dependência, alta quantidade de dopamina, faz com que a criança fique cada vez mais fissurada naquela tela. Se excluindo do ambiente de desenvolvimento.”
O especialista também alerta que a persistência no uso da tela faz com que aumente o risco de obesidade. Ele exemplifica dizendo que “eu vou me alimentando, comendo e vendo tela, eu não tenho a liberação de hormônio da saciedade”.
Riscos à saúde mental
Já a psicóloga Mayvonne Morais explica que o excesso de telas pode causar riscos à saúde mental.
“O uso de telas à noite, por exemplo, afeta sim e confunde nosso relógio biológico. Então, por conta disso, há muita incidência de distúrbios de sono e outros problemas de ordem médica crônicos também, a exemplo de diabetes, obesidade, depressão.”
Para a psicóloga o uso de telas em excesso está associado ao abandono afetivo. Mayvonne explica que ao entregar um aparelho, muitos pais também perdem o exercício real da paternidade ou maternidade.
“A gente precisa aprender que quando a gente entrega um aparelho, e muitos pais o fazem pensando em dispor de mais tempo, também perde o efetivo, o exercício real da paternidade/maternidade, deixando de atender uma série de atividades que são importantes pra que a gente possa ter uma vida muito mais equilibrada.”
Danos à visão
Em entrevista à TV Cabo Branco, a oftalmologista Michelle Cantisani explica que o uso de telas pode interferir em muitas coisas em relação à visão. E, que uma delas é a síndrome do olho seco, que ocorre quando piscamos menos quando usamos as telas.
Michelle comenta que a Síndrome do olho seco acontece porque piscamos menos em frente ao computador e com isso, os olhos deixam de ser lubrificados de forma correta.
“Quase todos os pacientes, quase todas as pessoas que usam muito telas tem isso, sentem a sensação de ardor, a sensação de areia no olho”.
Além disso, Michelle conta que hoje em dia os especialistas também sabem que o uso de telas em excesso para crianças pode causar a progressão da miopia.
“Crianças que fazem o uso excessivo de telas acabam tendo tanto mais cedo o início da miopia, como tem uma progressão dessa miopia mais acelerada” falou a especialista.
Uso correto
A oftalmologista recomenda que, em relação ao uso recreativo, até para adultos, existe um tempo limite, assim como para as crianças, onde esse tempo varia de acordo com a idade.
“Em relação ao uso recreativo, até para adultos existe um tempo limite, para crianças o ideal é até dois anos, não usar telas, de dois a cinco, no máximo uma hora, de cinco a dez, no máximo duas horas e acima de 10 anos, inclusive, para os adultos, usar no máximo três horas recreativo”.
Já para o uso de telas no trabalho, Michelle recomenda que sejam feitas algumas pausas e que as telas sejam ajustadas, como os índices de contraste e luminosidade.
Ela fala que o ideal é que a cada 20 minutos, uma pessoa olhe 20 pés, ou seja, cerca de seis metros de distância por 20 segundos e voltar a olhar para a tela em questão.
“Como isso é mais difícil, que pelo menos a cada duas horas você dê um intervalo de cinco, dez minutos, olhando coisas a distância” indicou, Michelle.
Como combater o excesso de telas
Para os especialistas, o uso excessivo de telas deve ser combatido com outras atividades. Luís recomenda que para as crianças, atividades como brincar, estimular atividades como engatinhar, falar e repetir palavras pode ser uma boa.
“Aquele básico que, às vezes, a gente fazia muito na infância, e hoje ninguém faz mais parece. Dois, de dois anos a seis, cinco anos, a uma recomendação de no máximo uma hora. Bem, é o início de uma introdução que a gente precisa estimular a atividade física, a socialização, a comunicação interpessoal” , comentou.
Mayvonne comenta que atividades que usem o corpo como esportes e as artes como a música e escrita podem fazer um contrabalanço.