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Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Em 1982, quando a editora Melhoramentos publicou no Brasil o livro The Beatles, fazia 20 anos do lançamento do primeiro single do grupo e 12 da separação. Tudo ainda era muito recente. O texto do livro era de Geoffrey Strokes, e a capa, de Andy Warhol.

O prefácio – sim, o prefácio! – era do maestro Leonard Bernstein, que nós cultuávamos com profunda admiração. A opinião de Bernstein, sendo o gigante que ele era na música erudita, chancelava os Beatles e cortava o barato dos que insistiam em não compreender a dimensão do quarteto.

Comprei o livro em 1982 e o mantenho íntegro no meu acervo. Agora, aproveitando o momento em que o nome de Leonard Bernstein está outra vez em evidência por causa do filme Maestro, transcrevo o prefácio escrito no final da década de 1970.

“Me apaixonei pela música dos Beatles (e, ao mesmo tempo, por aquelas quatro caras cum persone) junto com meus filhos, duas meninas e um garoto, ao descobrir aquele falsete fabuloso gritado-sussurrado, aquela batida irresistível, a entonação perfeita, as letras completamente novas, a torrente schubertiana de invenção musical e a nonchalance tipo Danem-se esses Quatro Cavalheiros do Nosso Apocalipse. Jamie tinha doze anos, Alexander, nove, e Nina, dois. Juntos, nós vimos A Visão, em nossas formas inevitavelmente distintas (eu tinha 46 anos!), mas vimos a mesma Visão, e ouvimos o mesmo Pássaro-da-Manhã, Trombeta-do-Elefante, Fanfarra-do-Futuro. Que futuro? Cá estamos nós, quinze anos se passaram, aquilo passou. Porém, durante uma década mais ou menos, ou ainda menos, aquilo permaneceu a mesma Visão-Clarim, cada vez mais concludente e irrefutável, mais clara, mais amarga – e melhor.

Talvez o mais claro, mais amargo (e quem sabe melhor) foi um disco chamado Revolver (pace Sgt. Pepper, Abbey Road et al). Nesse álbum, a melhor coisa, talvez, era uma musiquinha chamada She said she said; pensar nela, lembrar-se dela traz imediatamente à memória toda a beleza daquelas Veias Varicosas Vietnamitas. As notas cicatrizavam, a letra incomodava; ou talvez fosse vice-versa. Mas alguma coisa incomodava, e alguma coisa cicatrizava, ano após ano, Rigby após Rigby, Paperback após Norwegian, talvez expressa às últimas consequências na verdade vislumbrante e triste de She’s leaving home.

Enquanto isso, aparecia um volume fino, de pura genidalidade verbal de um ator novo, chamado John Lennon: in his own write. Como se isso não bastasse para a lenda, ainda havia as notas (e a voz de sereia-sílfide) de um tal McCartney. Esses dois formavam uma dupla que incorporou uma criatividade quase nunca igualada naquela década feliz. Ringo – um ator-instrumentista adorável. George – um talento místico irrealizado. Porém, John e Paul, São João e São Paul, eram, e fizeram, e aureolaram, beatificaram e eternizaram o conceito que será sempre conhecido, lembrado e profundamente amado como The Beatles.

E, se os depois foram simplesmente isso, os quatro foram O Todo. Essa interdependência deixava atônito, chapava, às vezes dava pavor; vamos mesmo precisar disso tudo Quando Tivermos 64 Anos? Bem, hoje estou beirando os 64, e três compassos de A day in the life bastam para me sustentar, rejuvenescer, excitar meus sentidos e sensibilidades.

Nina, que tinha dois anos em 64, agora tem dezessete; e ainda na semana passada pegamos aquele livro grosso e infeliz de partituras mal tiradas dos Beatles para ficar relembrando no piano. Nós choramos, e demos pulos de alegria com as redescobertas (She’s a woman) – só nos dois, durante horas (Ticket to ride, A hard day’s night, I saw her standing there)…

Isso foi a semana passada. Os Beatles não existem mais. Mas esta semana ainda estou pulando, chorando, recordando uma época boa, uma década de ouro, bons tempos, bons tempos…

LEONARD BERNSTEIN/9 de outubro de 1979″

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