Será esse meu último Conclave?
O Conclave começou nesta quarta-feira, 07 de maio de 2025. Espera-se que logo o mundo conheça o sucessor de Francisco, que morreu aos 88 anos no dia 21 de abril.
Quantos Conclaves você já testemunhou? Quantos papas já passaram pela sua vida? O atual Conclave será o sexto da minha vida, e o sucessor de Francisco, o sétimo papa.
Sou de 1959. Vou fazer 66 anos em junho. Tinha, portanto, quatro anos em 1963, quando João XXIII morreu. Quatro anos e uma vaguíssima lembrança da minha mãe dizendo que os sinos da Igreja do Rosário estavam tocando para anunciar a morte do papa.
O papa que os frades franciscanos do Rosário citavam nas missas da minha infância e adolescência era Paulo VI, sucessor de João XXIII e mais moderado do que este.
No final da tarde de um domingo, 06 de agosto de 1978, eu saía de uma sessão de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, quando Humberto, o simpático porteiro do Cine Plaza, me disse: “Sílvio, o papa Paulo VI morreu”.
João Paulo I, chamado de “o papa sorriso”, morreu um mês depois de ser escolhido. Seu sucessor, o polonês João Paulo II, ficou no Vaticano por quase 27 anos.
João Paulo II, conhecido como o papa pop, peregrinou pelo mundo todo. Fui vê-lo de perto numa missa no Recife, em 1980, quando de sua primeira visita ao Brasil.
Ver um papa de perto, com o rebanho diante dele, é uma experiência forte. Mesmo que você tenha restrições à sua figura, ainda que você não seja católico praticante.
João Paulo II fez a parte dele na derrocada do bloco socialista, na virada da década de 1980 para a de 1990, e atuou contra a ação do clero progressista.
Bento XVI, seu sucessor, era cultíssimo e ultraconservador. A defesa que Leonardo Boff fez dele abriu meus olhos para não crer em tudo o que diziam seus críticos.
Ver ao vivo na TV, só vi o desfecho de dois Conclaves – a fumaça branca saindo pela chaminé e o momento em que o novo papa aparece na sacada da Basílica de São Pedro.
Vi em 2005, na escolha do alemão Bento XVI, no final de uma manhã. E vi em 2013, no final de uma tarde, na escolha surpreendente do argentino Francisco I.
Sou filho de pai ateu e mãe católica. Sou produto desse antagonismo. Não sei se sou ateu ou crente em Deus. Um católico praticante me disse que sou um ateu com dúvidas.
Seja como for, a presença de um papa no mundo da religião e também na cena política segue me impressionando, e não pretendo tirá-la do meu radar.
Cedo, aprendi a admirar João XXIII. Gosto sempre de mencionar que, à sua doce memória, Pier Paolo Pasolini – gay, ateu, marxista – dedicou O Evangelho Segundo São Mateus.
Frei Betto, que tem 80 anos, disse que só conheceu dois papas progressistas, João XXIII e Francisco. Francisco teve posturas corajosas nessa instituição poderosa, mas em crise.
Logo saberemos quem e como será o sucessor de Francisco. Para mim, o Conclave é um marcador de tempo. Terei tempo de ver outro, depois desse que agora se inicia?