Tom Jobim é o maior compositor de música popular do Brasil
Antônio Carlos Jobim morreu aos 67 anos no dia oito de dezembro de 1994. Domingo que vem, oito de dezembro de 2024, faz 30 anos. Segue a última parte de um texto que escrevi no ano 2000 e está no meu livro Meio Bossa Nova, Meio Rock’n’ Roll.
O jazz foi importante para a bossa nova e para a música de Antônio Carlos Jobim, mas o Brasil foi maior. O Brasil de Villa-Lobos, de Radamés Gnatalli, de Ary Barroso, num compositor que escreveu samba, modinha, toada, baião, frevo, choro, valsa.
Um autor que mergulhou fundo nas raízes musicais do seu país e que fez da sua música um documento sonoro de amor aos caminhos do Brasil.
Dois temas têm que ser lembrados quando se fala dele: o amor a uma cidade, o Rio de Janeiro, e a defesa das causas ecológicas.
Com elas, Tom Jobim se preocupou muito antes que virassem moda e se orgulhava disto. Já o Rio, de tantas canções, recebeu a sua maior homenagem no Samba do Avião.
Escolher um dos seus discos é uma tarefa difícil, mas diria que Matita Perê, de 1973, é o que mais me impressiona, situado entre o clima semi-erudito da suíte Crônica da Casa Assassinada e esta obra-prima da canção popular que é o samba Águas de Março.
Citaria também o álbum-duplo que, em 1987, ao lado da Banda Nova, gravou para ser distribuído pela Odebrecht como brinde de final de ano.
O disco, que só chegou ao mercado após a sua morte, com o título de Tom Jobim Inédito, é uma soberba revisão do seu extenso cancioneiro.
É julho de 1991, vejo Tom Jobim no palco do Teatro Guararapes, de volta para o bis depois de um show irrepreensível, e fico imaginando o que poderá tocar.
A plateia faz alguns pedidos, mas a escolha é dele: Eu Sei que Vou te Amar, a íntegra da suíte Gabriela e Garota de Ipanema, um bis digno de um grande compositor.
No dia oito de dezembro de 1994, aos 67 anos, Tom Jobim morreu em Nova York, na mesma data e na mesma cidade onde, 14 anos antes, morrera John Lennon.
Eu estava numa loja de discos quando soube da notícia. Fui ao CD player e ouvi Fly Me To The Moon, que, fazia poucas semanas, Tom gravara com Frank Sinatra.
Fly Me To The Moon, que no dueto é, ao mesmo tempo, jazz e bossa nova, funcionou, ali, como singelo retrato de uma conquista que deve ser atribuída a Tom Jobim e à bossa nova: o reconhecimento internacional da música popular brasileira.
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim direcionou seu talento ao que é belo, e o Brasil será sempre grato a ele.