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O paraibano Uaná Barreto faz grande álbum com peças compostas para piano

Foto/Reprodução.

A música da Paraíba e suas revelações. Sugiro a urgente audição de Vagalume, com peças autorais executadas ao piano por Uaná Barreto. O álbum, que ainda não tem edição física, está disponível nas plataformas digitais.

Uaná Barreto tem 31 anos. É professor de música e músico de formação. Seu instrumento é o piano. É filho do compositor Adeildo Vieira.

No momento, está gravando as 366 músicas do Calendário do Som composto por Hermeto Pascoal. Hermeto compôs uma música para cada dia do ano, e Uaná foi convidado a gravá-las pelo Instituto Piano Brasileiro.

Meu gosto musical está consolidado há muito tempo. Aos 65 anos, dificilmente incorporo coisas novas às minhas audições. Só quando elas me surpreendem. Como, agora, Uaná Barreto com esse álbum Vagalume.

Uaná estudou música. Tem formação erudita e é com ela que se põe diante de um piano. Mas Uaná cresceu ouvindo muita música popular e, ao se dedicar à composição, migrou para um terreno híbrido, entre o erudito e o popular.

A capa de Vagalume sugere que se trata de um álbum de música erudita. Traz Uaná Barreto num palco, tocando num piano de cauda. Os títulos das músicas também remetem ao território erudito.

Tem uma delicada suíte escrita para a filha que o músico perdeu. Suíte Para Lia é dividida em quatro partes: Cantiga de Espera 1, Cantiga de Espera 2, Contando Histórias e Passeio de Domingo.

Reza a Lenda também é dividida em movimentos. São seis: Curupira, Iara, Mula-Sem-Cabeça, Cumade Fulozinha, Neguinho do Pastoreio e Saci Pererê. Essa inspiração que o músico vai buscar no folclore é típica da música erudita.

Segue-se, então, uma Sonata Para Piano. São três movimentos: Enérgico, Sofrido e Prestíssimo Cintilante.

Vagalume tem mais seis faixas. Dancinha, a primeira, tem uma blue note logo no começo. É a presença do jazz no trabalho de Uaná.

Como o jazz, há outras fontes no álbum: as tradições do piano brasileiro (o erudito e o popular), a África, os compositores russos que Uaná anda ouvindo. O Clube da Esquina, que ele menciona numa conversa ao telefone, e Egberto Gismonti, esse gigante que também migrou do erudito para o popular.

Vagalume,em belo vocalise,tem a voz de Stephanie Borgani em Universo Esperança e tem o Quinteto da Paraíba na faixa que dá título ao álbum e fecha o programa.

Creio que Vagalume reúne essencialmente música para músicos. Ou para ouvintes que, não sendo músicos, se dedicam com afinco à degustação da música.

E faz a gente pensar muito na trajetória do piano brasileiro, de Ernesto Nazareth a Amaro Freitas. Trajetória na qual, desde já, Uaná já se insere.

Vagalume é um grande álbum concebido por um músico excepcionalmente talentoso. Devemos prestar muita atenção aos movimentos de Uaná Barreto.