Quem foi Iracema Feijó, primeira mulher a votar na Paraíba
Luta política, busca pelo reconhecimento dos direitos femininos, engajamento na poesia e classe como escritora, esses são os predicados que definem Iracema Feijó, a primeira mulher a votar em Eleições na Paraíba.
Iracema Feijó conseguiu o direito de votar antes mesmo do surgimento da Justiça Eleitoral, em 1932. Em alusão ao Dia da Mulher, comemorado no último 8 de março, o Jornal da Paraíba preparou uma reportagem com as principais curiosidades sobre a figura política paraibana.
Quem foi Iracema Feijó
Nascida na capital João Pessoa, no ano de 1893, Isabel Iracema Feijó da Silveira era filha de Emídio de Oliveira e Maria Carolina de Lima Feijó. Ela estudou em uma escola pública de João Pessoa nos primeiros anos de vida e posteriormente entrou para a escola Normal do Estado, onde ficou até se formar, conseguindo um diploma de professora em março de 1908.
Iracema Feijó foi colaboradora em diversos jornais ao longo da vida, como na A União e A Imprensa, escrevendo para o caderno feminino, e também nas revistas Era Nova, Manaíra e Almanaque, em circulação na capital paraibana.
Além disso, Iracema Feijó também ganhou relevância tendo escrito compilados históricos das décadas de 1920, 1930 e também de 1940. Também teve papel importante durante o “Estado Novo”, instaurado por Getúlio Vargas, a partir de 1937, quando ocupou o magistério na cidade de Santa Rita, região metropolitana da capital João Pessoa.
Para além da Paraíba, a escritora e poetisa também desenvolveu trabalhos em outros estados, como no Rio de Janeiro, quando escreveu para algumas revistas e, principalmente, em Alagoas, onde residiu na capital Maceió.
Na capital alagoana, ela se tornou presidente do Centro Cultural Emílio de Maya, que posteriormente se tornou a Academia Maceioense de Letras (AML). Na organização, ocupou a cadeira de número 20 e também foi sócia fundadora.
História do primeiro voto feminino
De acordo com o Memorial da Justiça Eleitoral na Paraíba, antes mesmo da criação de um órgão que coordenasse as Eleições, Iracema Feijó teve um requerimento de alistamento eleitoral, que foi deferido, à época, pelo juiz da Comarca de Santa Rita. Antes das Eleições de 1933, Iracema conseguiu esse direito, que até então era facultativo para todas as mulheres.
A lei da época, conforme o TRE-PB, não proibia totalmente o voto das mulheres, mas também não liberava, deixando a questão em aberto juridicamente falando. Por conta dessa brecha jurídica, várias mulheres conseguiram o direito de votar nas Eleições de 1933. Esse entendimento jurídico, inclusive, fez com que a médica paulista Carlota Pereira fosse eleita para um cargo federal, sendo a primeira mulher a alcançar o feito.
Em 1928, Iracema conseguiu uma decisão do juiz de Santa Rita, Celso Novais, com base na Constituição Federal de 1891. Anos depois de Iracema ter recebido o sinal verde para poder votar, a responsabilidade do alistamento eleitoral passou a ser da própria Justiça Eleitoral após a sua criação. Com o voto de Iracema Feijó, ela se tornou a primeira mulher a votar diretamente em Eleições na Paraíba.
Depois de Iracema Feijó, dos dez primeiros eleitores paraibanos alistados pela Justiça Eleitoral, responsável a partir daquele momento pelo alistamento, quatro eram mulheres: Isabel Carneiro Cavalcante de Avellar, Celsa Augusta de Araújo Fernandes, Irene Leão de Oliveira e Celsa Augusta de Araújo Fernandes.
Carreira como escritora
Além de ter sido considerada a primeira mulher a votar na Paraíba, a carreira como escritora, jornalista e poetisa gerou muito reconhecimento para Iracema Feijó.
Em vários dos célebres trabalhos, Iracema Feijó produziu diversos poemas, como “Meu Coração em Pedaços”, “Juras Quebradas”, “Preces do Amor”, “Em Noites Calmas do Estio”, entre outras produções relevantes para o cenário da época.
No entanto, um dos mais relevantes poemas de Iracema Feijó, que ganhou notoriedade ao longo da carreira da poetisa foi “Quando Eu Lhe Disse Adeus”. Leia abaixo.
“Quando eu lhe disse adeus todo o meu ser tremia.
Os meus olhos cheios de agonia
ergueram-se lentamente para os seus.
Uma dor profunda avassalou-me o peito.
Sombria palidez cobriu-me o rosto
quando eu lhe disse adeus!
Era à tardinha, à hora do sol posto
No momento da nossa despedida.
Dos lábios meus
fugiu-me um ai tão triste e tão sentido!
Dos meus olhos o pranto então corria
e dor intensa o peito meu pungia
quando eu lhe disse adeus!
Abraçamo-nos nesta hora comovidos.
O meu rosto escondi nos braços seus.
E, tremendo de dor ,a mão fria beijar-lhe
quando eu lhe disse adeus!
E falou-me baixinho, comovido:
‘Volto, querida, tão triste aos lares meus!’
e eu com a voz que num soluço parecia
só lhe pude responder:
Adeus!”