Campos de concentração no Brasil: conheça histórias

Pouco ainda é conhecido do grande público sobre as histórias de campos de concentração que foram montados no Brasil, principalmente durante o período da Segunda Guerra Mundial.

Com base em informações históricas, o Jornal da Paraíba fez um levantamento sobre diversos tipos de campos de concentração que já foram registrados ao longo dos anos no Brasil.

A nomenclatura de “campos de concentração” para os casos brasileiros, inclusive, foi dada por alguns jornais da época e matérias posteriores, justamente por situações de cerceamento de direitos humanos em território brasileiro acontecendo durante o regime nazista de Adolf Hitler, que implementava uma política de extermínio contra os judeus na Alemanha, apesar dos campos de concentração no Brasil terem sido bem diferentes do que foi visto na Alemanha, como será possível ver no conteúdo a seguir.

Campos de concentração no Brasil

Foto atual mostra ruínas de antigo campo de concentração no Ceará – Foto: Gustavo Gomes/EBC

No Brasil, os campos de concentração encontrados pela reportagem foram divididos para dois tipos de finalidade pelos responsáveis da época. Nos casos do Norte e do Sul do país, os campos de concentração foram feitos para aprisionar estrangeiros prisioneiros de guerra, assim como na Bahia. No Ceará, houve um caso um pouco diferente, que não teve relação com a época da guerra.

Campos de concentração no Nordeste

Veja os campos de concentração que existiram no Nordeste do Brasil:

Ceará

De acordo com informações do g1, o caso no Ceará aconteceu em dois momentos. Em 1915 e posteriormente em 1932. Nessas duas datas, foram erguidos campos de concentração para reter pessoas que migravam dentro do próprio estado por conta das secas que aconteceram naquela época. Esses “retirantes da seca” eram impedidos de chegar à capital Fortaleza, onde conseguiram um maior auxílio para sobreviver à estiagem.

Esses campos de concentração eram espaços de aprisionamento espalhados estrategicamente em rotas de migração no estado. Ao todo, foram catalogados oito campos de concentração, sendo sete construídos durante uma seca de 1932.

A motivação para criação dos campos de concentração foi a seca de 1877, quando um ciclo intenso de estiagem motivou grandes deslocamentos de retirantes do interior do estado para Fortaleza. Em 1915, temendo que a situação de 1877 se repetisse, o governador da época, coronel Benjamin Liberato Barroso, criou o primeiro campo de concentração do Ceará, em Fortaleza, no chamado Alagadiço, atualmente bairro de São Gerardo.

Os retirantes chegavam, sobretudo, pela via férrea e eram contidos em um grande terreno para evitar, dentre outras coisas, que passassem a vagar pela capital, ampliando cenários de pobreza, conforme documentos oficiais do governo da época. A concentração de até 8 mil pessoas foi registrada.

Em 1932, outros campos foram registrados em mais cinco cidades, além de Fortaleza, como Crato, Senador Pompeu, Quixeramobim, Cariús e Ipu. O campo de concentração em Senador Pompeu foi tombado patrimônio histórico-cultural do Ceará, em 2019. Pelo menos 73.918 flagelados da seca em 32 foram contabilizados espalhados nesses campos de concentração.

Histórias de pessoas que morriam de fome e eram impedidas de sair do local, para não chegarem a Fortaleza, foram contadas em diversos veículos.

Bahia

No estado baiano, os campos de concentração também foram repetidos, no entanto, com um caráter diferente do que houve no Ceará. Por lá, cerca de 200 alemães, prisioneiros de guerra, foram concentrados em 1943, isso porque, um ano antes, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, aderiu à aliança de Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos contra a Alemanha Nazista.

De acordo com o Jornal Correio da Bahia, o campo de concentração foi pensado para esses prisioneiros na cidade de Maracás. No caso, o nome “campo de concentração” foi dado pelo próprio governo baiano ao caso, não se assemelhando ao tipo de prática que eram realizadas pelos alemães na Segunda Guerra.

Os cerca de 200 prisioneiros tinham restrições na mobilidade que poderiam ter na cidade de Maracás. Os alemães não podiam expressar opiniões, falar sobre seu país ou sobre a guerra, beber ou ouvir rádio, além disso não podiam passar das 20h fora de casa, só podendo sair com autorização de integrantes do exército brasileiro.

Após o final da guerra, os alemães foram liberados para voltar para o país de origem.

Campos de concentração no Norte

Conheça o campo de concentração registrado no Norte do país:

Pará

No estado do Pará, houve algo semelhante ao que aconteceu na Bahia. Por lá, dessa vez, ao invés de prisioneiros alemães, as pessoas confinadas eram japoneses, justamente por conta da aliança do Brasil com a aliança oposta ao Japão e a Alemanha durante a Segunda Guerra.

O campo de concentração foi localizado no município de Tomé-Açu. Os imigrantes japoneses viviam sob regras rígidas, com racionamento de energia e toque de recolher, além de censura de correspondências e proibição de se agrupar, de acordo com a BBC.

Ao invés de prisioneiros de guerra, no Pará, foram presos imigrantes japoneses que até 1942 já residiam em regiões próximas de Tomé-Açu. Essa comunidade japonesa vivia perto de um rio chamado Acará. Quando o Brasil entrou na guerra, os bens dessas pessoas foram confiscados e a localidade isolada. Cerca de 49 famílias moravam no local.

Reuniões com integrantes da comunidade, o consumo de notícias por meio da rádio, a utilização de armas e outros aspectos foram proibidos por um destacamento militar que foi responsável por fiscalizar o campo.

Assim como na Bahia, esses campos de concentração foram desfeitos após o fim da guerra. Algumas famílias alemãs e italianas, que também estavam próximas à região, também ficaram no local durante a guerra.

Campos de concentração no Sul

No Sul do Brasil, o campo de concentração registrado foi em Santa Catarina:

Santa Catarina

No estado do sul do Brasil, dois campos de concentração foram registrados historicamente, em Joinville e Florianópolis. Nesse caso, pelo menos 200 pessoas, consideradas pelo governo Getúlio Vargas como nazistas, foram alocadas para esses campos de concentração nas duas cidades.

Trabalhos forçados, torturas e prisões ilegais foram catalogadas durante o período a partir de 1942 até o final da guerra, de acordo com a TV NSC. Além de alemães, italianos também eram alvos da política de Getúlio Vargas contra pessoas que tinham nacionalidades dentro do “Eixo”, formado pela própria Alemanha, Itália e Japão.

O Hospital Oscar Schneider, utilizado primeiramente na década de 1920, em Joinville, como uma unidade psiquiátrica, virou o local de concentração na cidade. Já em Florianópolis, o local utilizado para reter as pessoas era o que atualmente é parte do campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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