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Beatles 64 é um bom filme, mas podia ser melhor

Foto/Divulgação.

Em 1981, Paul Simon lançou uma canção chamada The Late Great Johnny Ace. A letra começa com uma lembrança dos anos 1950 e vai até 1980, mencionando o momento em que o compositor soube por um estranho do assassinato de John Lennon.

Quando passa por 1964, a tocante canção de Paul Simon diz que “foi o ano dos Beatles, o ano dos Stones/Um ano depois de JFK”. Faz uma conexão da “british invasion” com o assassinato, em novembro de 1963, do presidente John Kennedy.

Também há uma conexão entre JFK e a música popular em No Direction Home. No extenso documentário de Martin Scorsese sobre Bob Dylan, as imagens da tragédia em Dallas se misturam com os sons de A Hard Rain’s a-Gonna Fall.

Produzido por Martin Scorsese e dirigido por David Tedeschi, Beatles 64 começa com o assassinato de Kennedy, antes de chegar à primeira ida da banda aos Estados Unidos. O documentário, lançado na semana passada, está disponível em streaming.

JFK foi assassinado no dia 22 de novembro de 1963. Os Beatles se apresentaram no Ed Sullivan Show, em Nova York, no dia nove de fevereiro de 1964. Foi a estreia deles na América e o início da Beatlemania como fenômeno de dimensão mundial.

Os Estados Unidos estavam de luto quando receberam os Beatles. A presença deles é vista no filme como uma luz oferecida aos americanos através da canção popular. Exagero ou não, é desse modo que Beatles 64 enxerga a questão.

Martin Scorsese produziu, mas não dirigiu Beatles 64. David Tedeschi, seu diretor, tem trabalhado editando filmes de Martin Scorsese, que também já foi montador.

Beatles 64 não existiria sem Albert e David Maysles. Albert morreu em 2015. David, em 1987. Foram esses irmãos documentaristas que em 1964 filmaram os Beatles em Nova York, Washington e Miami. As imagens deles são a base do filme de agora.

Beatles 64 termina com um agradecimento e uma dedicatória a Albert e David Maysles. É sempre bom lembrar que foram eles que registraram a passagem dos Rolling Stones pelos EUA no final de 1969, quando houve tanto o triunfo em Nova York quanto o trágico free concert do autódromo de Altamont. Estão no filme Gimme Shelter.

Beatles 64 é extremamente familiar para quem já conhece The Beatles: The First U.S. Visit. Filmado em 16 mm, The First U.S. Visit é o incrível documentário dos próprios irmãos Maysles sobre a estreia dos Beatles em território americano.

The Beatles: The First U.S. Visit não torna Beatles 64 redundante nem desnecessário, algo que muita gente temia. Os dois documentários se complementam. O segundo enriquece o primeiro. Mas são filmes muito diferentes e quase antagônicos.

The Beatles: The First U.S Visit é o retrato linear tirado in loco e tem a linguagem dos documentários dos anos 1960, como os filmes de D.A. Pennebaker. Beatles 64 é reflexivo, traz os fatos vistos de longe, depois que seis décadas se passaram.

Paul McCartney foi entrevistado para Beatles 64. Ele está diante da exposição que reúne as fotos de sua autoria feitas durante a viagem de duas semanas aos Estados Unidos. As fotografias se transformaram no precioso livro 1964: Os Olhos do Furacão.

Ringo Starr também foi entrevistado para o filme. O que valoriza sobremaneira o depoimento dele é a presença, em cena, de Martin Scorsese, seu entrevistador.

Há depoimentos tocantes: de Jamie Bernstein, filha do maestro Leonard Bernstein, que era fã dos Beatles, do produtor Jack Douglas, que trabalhou com John Lennon, e de Smokey Robinson, estrela da soul music, autor de You Really Got To Hold On Me, que os Beatles já haviam gravado quando foram pela primeira vez à América.

Jamie, Jack e Smokey, assim como o cineasta David Lynch, gravaram para o filme. Lynch viu os Beatles ao vivo no show de Washington, em 1964. Mas há vídeos antigos de Little Richard, Leonard Bernstein e do teórico da comunicação Marshall McLuhan, incluindo trechos de uma conversa dele como John Lennon e Yoko Ono.

The Beatles: The First U.S Visit tem muitos números musicais. É uma virtude do filme dos irmãos Maysles. Beatles 64 tem pouca música, mas isso não chega a ser um problema. É, antes, uma escolha legítima do realizador, que priorizou as falas.

Mas um dos grandes momentos do filme é um número musical, aquele que mostra os Beatles no show de Washington, com Paul McCartney fazendo Long Tall Sally, um cover de Little Richard. Uma performance intensa e visceral, puro rock’n’ roll.

Beatles 64 é um bom filme, mas podia ser melhor. Uma certa decepção, quando visto no calor da estreia, talvez possa ser atribuída ao fato de que o markting da Disney, que distribui o documentário, investiu numa expectativa e esta não foi correspondida.