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o torcedor é partícipe da história que ajuda a escrever

Foto: João Neto. João Neto

Poucas sensações são tão impactantes do que um grito de gol gritado na arquibancada de um estádio de futebol, no momento derradeiro de uma partida (desnecessariamente) difícil e que, nos segundos finais, transforma empate em vitória.

É um momento de transe que não é simples de descrever.

Porque funciona assim…

No exato instante em que se percebe o gol, um barulho crescente e ensurdecedor toma a arquibancada, vibra o cimento, arrepia a alma, adentra de forma arrebatadora no coração.

É um turbilhão que se irrompe. Enérgico, impactante, definitivo. Ao mesmo tempo, ainda que incrivelmente rápido, não é instantâneo. E os mais atentos conseguem sentir a forma gradativa com que, em frações de segundo, o torpor vai chegar e invadir a todos.

A partir daí, a mente já não funciona de forma adequada. E tudo o mais é compartilhado coletivamente.

Esse detalhe faz toda a diferença.

O torcedor se torna muitos ao mesmo tempo. E, mais do que isso, reposiciona-se na dinâmica relacional entre o jogar e o torcer.

Não é apenas testemunha, é partícipe da história. Não apenas torce, joga também. É agente. Protagonista. Corresponsável por tudo aquilo o que se desenrola diante de si, de todos.

Foi muito disso o que foi observado na noite desta quarta-feira (17) no Estádio Almeidão, na vitória do Botafogo-PB em cima do São José pela Série C do Brasileirão.

Vitória de virada por 2 a 1, com gol nos acréscimos, com a emoção adicional de ter ocorrido logo após o traumático jogo do último sábado (13) contra o Confiança.

A diferença desta vez é que não houve o revide derradeiro, a transgressão da lógica, o sobrenatural. A diferença desta vez é que a vitória persistiu até o apito final.

Foi um momento catártico. Diferente. Absolutamente leve e feliz. Vivido ao lado de conhecidos e desconhecidos, alçados todos indistintamente à condição de companheiros de memórias partilhadas.

Em paralelo a isso, foi uma noite que ajuda também, de certa forma, a fazer entender o óbvio: a Série C é uma competição longa e não é plausível acreditar que seja possível vencê-la ou perdê-la em apenas um ou dois jogos de meio de tabela.

Claro que existirão os jogos decisivos, definitivos, mas esses são só mais à frente.

Não carece de sofrer em demasia antes da hora com os tropeços eventuais, com os gols de meio de campo, com aquilo que de tão absurdo impulsiona o torcedor a pensar que “isso só acontece com o Botafogo-PB”.

Calma!

A classificação já é quase uma certeza, o posicionamento de tabela para decidir a classificação em casa uma possibilidade plausível.

É seguir a caminhada, o sonho, a jornada.

Sempre coletivamente, claro.

E que todas as gerações de torcedores e jogadores – vivos, mortos e para nascer – se unam para levar o clube à Série B.

Onze anos depois, mesmo que com uma boa dose de cautela, cuidado e temor, acho que já é permitido ao menos sonhar com a ideia de que pode ter enfim chegado a vez do Belo.

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