o torcedor é partícipe da história que ajuda a escrever
Poucas sensações são tão impactantes do que um grito de gol gritado na arquibancada de um estádio de futebol, no momento derradeiro de uma partida (desnecessariamente) difícil e que, nos segundos finais, transforma empate em vitória.
É um momento de transe que não é simples de descrever.
Porque funciona assim…
No exato instante em que se percebe o gol, um barulho crescente e ensurdecedor toma a arquibancada, vibra o cimento, arrepia a alma, adentra de forma arrebatadora no coração.
É um turbilhão que se irrompe. Enérgico, impactante, definitivo. Ao mesmo tempo, ainda que incrivelmente rápido, não é instantâneo. E os mais atentos conseguem sentir a forma gradativa com que, em frações de segundo, o torpor vai chegar e invadir a todos.
A partir daí, a mente já não funciona de forma adequada. E tudo o mais é compartilhado coletivamente.
Esse detalhe faz toda a diferença.
O torcedor se torna muitos ao mesmo tempo. E, mais do que isso, reposiciona-se na dinâmica relacional entre o jogar e o torcer.
Não é apenas testemunha, é partícipe da história. Não apenas torce, joga também. É agente. Protagonista. Corresponsável por tudo aquilo o que se desenrola diante de si, de todos.
Foi muito disso o que foi observado na noite desta quarta-feira (17) no Estádio Almeidão, na vitória do Botafogo-PB em cima do São José pela Série C do Brasileirão.
Vitória de virada por 2 a 1, com gol nos acréscimos, com a emoção adicional de ter ocorrido logo após o traumático jogo do último sábado (13) contra o Confiança.
A diferença desta vez é que não houve o revide derradeiro, a transgressão da lógica, o sobrenatural. A diferença desta vez é que a vitória persistiu até o apito final.
Foi um momento catártico. Diferente. Absolutamente leve e feliz. Vivido ao lado de conhecidos e desconhecidos, alçados todos indistintamente à condição de companheiros de memórias partilhadas.
Em paralelo a isso, foi uma noite que ajuda também, de certa forma, a fazer entender o óbvio: a Série C é uma competição longa e não é plausível acreditar que seja possível vencê-la ou perdê-la em apenas um ou dois jogos de meio de tabela.
Claro que existirão os jogos decisivos, definitivos, mas esses são só mais à frente.
Não carece de sofrer em demasia antes da hora com os tropeços eventuais, com os gols de meio de campo, com aquilo que de tão absurdo impulsiona o torcedor a pensar que “isso só acontece com o Botafogo-PB”.
Calma!
A classificação já é quase uma certeza, o posicionamento de tabela para decidir a classificação em casa uma possibilidade plausível.
É seguir a caminhada, o sonho, a jornada.
Sempre coletivamente, claro.
E que todas as gerações de torcedores e jogadores – vivos, mortos e para nascer – se unam para levar o clube à Série B.
Onze anos depois, mesmo que com uma boa dose de cautela, cuidado e temor, acho que já é permitido ao menos sonhar com a ideia de que pode ter enfim chegado a vez do Belo.