Perdemos Celso Marconi. Jornalista, crítico de cinema e música e professor, o intelectual pernambucano morreu em Olinda na noite de terça-feira (02) e foi sepultado nesta quarta-feira (03). Estava com 93 anos.
Minha admiração por Celso Marconi vem de longe, de uns 50 anos atrás, desde que descobri o notável crítico que ele era no Caderno C do Jornal do Commercio, do Recife. Celso escrevia principalmente sobre cinema e música.
A leitura da sua coluna reforçou o meu interesse pela crítica sobretudo de cinema e exerceu papel importante na formação do meu gosto de cinéfilo. Eu já tinha Antônio Barreto Neto (de longe, o da minha preferência) aqui em João Pessoa, mas gostava muito de José Carlos Avellar (no Jornal do Brasil), Bráulio Tavares (no Diário da Borborema) e Celso Marconi (no Jornal do Commercio).
Celso Marconi estava envolvido com o jornalismo cultural do Recife desde a década de 1950. Era de esquerda, foi à China e à União Soviética no início dos anos 1960, época em que essas viagens eram sinônimo de comunismo.
Preso em 1964, logo depois do golpe que depôs o presidente João Goulart, perseguido pelos militares, teve dificuldades para se reinserir no mercado.
Fez parte do grupo tropicalista dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte e, junto com Jomard Muniz de Britto, outro admirável intelectual pernambucano de sua geração, se aproximou de Caetano Veloso e Gilberto Gil ainda em 1968.
Celso Marconi foi diretor do Museu da Imagem e do Som e programador do Cinema de Arte Coliseu, um cinema de rua no bairro recifense de Casa Amarela que, durante muitos anos, desempenhou papel fundamental na formação de jovens cinéfilos, apresentando a esses os cineastas e filmes que geralmente não entravam nos grandes circuitos exibidores.
Sua grande contribuição à cena cultural de Pernambuco foi reconhecida ontem nas redes sociais pelo cineasta Kleber Mendonça Filho, que fez crítica no Jornal do Commercio depois que Celso deixou de atuar nas redações. “Celso Marconi faz parte da formação de quem ama o cinema”, escreveu o diretor de Retratos Fantasmas.
Bráulio Tavares também foi às redes sociais homenagear Celso Marconi, a quem classificou como “um dos críticos recifenses que formaram a minha geração”. Bráulio assim retratou Celso: “Tropicalista, cinemanovista, brincalhão, com sua voz mansa, frase incisiva, sorriso fácil, uma figura querida por todo mundo”.
Já com mais de 90 anos, Celso Marconi ainda fazia crítica de arte nas redes sociais, comentando os filmes que via nos serviços de streaming. Foi um intelectual ativo até bem perto da morte.