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RETRO2023/Bennett e Shorter

Em 2023, perdemos Tony Bennett e Wayne Shorter. Eles estão na minha retrospectiva do ano que está findando.

Tony Bennett morreu neste 21 de julho de 2023 em Nova York, a cidade onde nasceu há praticamente 97 anos – faria aniversário no dia três de agosto. O cantor de origem italiana tinha mal de Alzheimer e estava afastado dos palcos e dos estúdios desde 2021.

Bennett foi um dos grandes cantores do século XX e, no século XXI, manteve o status de dono de uma das maiores vozes da música popular do mundo. Era um gigante, um artista imenso – não é possível enxergá-lo se não for nessa dimensão.

Quando comecei a me interessar por música, há mais de meio século, Tony Bennett era um consagrado cantor pop dos Estados Unidos, mas ainda não conquistara o respeito que veio a conquistar um pouco mais tarde.

Seu estilo era, predominantemente, o pop romântico. E, contra ele, ainda havia Frank Sinatra, que era, de fato, o maior cantor popular do mundo e que, inclusive no pop, ostentava mais qualidade do que Bennett.

Creio que o conceito de Bennett cresceu na medida em que ele se aproximou muito do universo do jazz e obteve, por fim, ainda que não fosse negro, o status de um verdadeiro cantor de jazz.

Tony Bennett cantava muito, era afinadíssimo, intérprete elegante dos grandes standards do cancioneiro americano e sabia, de fato, o que era bom. Não se distanciou desse cancioneiro, que não era novo, mas soube dialogar com os novos artistas, trazendo cantores e cantoras para o seu mundo, para o que gostava de gravar.

O exemplo mais recente e extremamente eloquente desse diálogo de Bennett com outras gerações é Lady Gaga. Com ela, que é excelente cantora e que transita com igual fluência do pop contemporâneo ao jazz, ele gravou dois discos, em 2014 e em 2021.

Cheek to Cheek é o álbum de 2014. Love for Sale, o de 2021. São excepcionais. Registram o encontro de um homem no fim da vida com uma jovem cantora pop. Os dois debruçados sobre um repertório perene, que não se deixa tragar pela passagem do tempo.

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Wayne Shorter morreu neste dois de março de 2023 num hospital de Los Angeles. Tinha 89 anos. O saxofonista – tocava o sax tenor e migrou para o soprano – era um dos maiores músicos do mundo e uma verdadeira lenda do jazz. Um gigante, como a gente costuma dizer de pessoas com a sua dimensão.

Shorter foi compositor de notáveis temas jazzísticos e teve profícua carreira solo. Mas talvez seja mais importante destacar a sua presença em três grupos importantíssimos e verdadeiramente revolucionários no universo do jazz. Primeiro, ainda nos anos 1950, The Jazz Messengers, do baterista Art Blakey. Depois, na década de 1960, aquele que ficou conhecido como o segundo grande quinteto de Miles Davis. E, por fim, nos anos 1970, o Weather Report.

No quinteto de Miles Davis, Wayne Shorter tocou ao lado do pianista Herbie Hancock, do contrabaixista Ron Carter e do baterista Tony Williams, músicos tão extraordinários quanto ele próprio. Sob o comando de Davis, os integrantes do seu quinteto trabalharam juntos nos anos que antecederam a fusão do jazz com o rock promovida por Miles.

Quando Shorter formou o Weather Report, a fusion já era uma realidade e seria marca do trabalho do grupo. Neste, o saxofonista atuou ao lado do tecladista Joe Zawinul e do baixista Miroslav Vitous. Também passaram pelo Weather Report o percussionista brasileiro Airto Moreira e o baixista Jaco Pastorius, até hoje reverenciadíssimo por todos os que se dedicaram ao instrumento.

Wayne Shorter teve uma profunda ligação com Milton Nascimento. Eram parceiros/irmãos. Em meados dos anos 1970, gravaram nos Estados Unidos o aclamado álbum Native Dancer. Uma década depois, Shorter apareceu com destaque em A Barca dos Amantes, álbum ao vivo do artista brasileiro. A Shorter, Milton deve muito do prestígio que conquistou nos Estados Unidos, principalmente junto a músicos e ouvintes de jazz.

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