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Milei venceu, e eu nem sei se devo chorar pela Argentina

No Brasil de 1960, Jânio Quadros prometeu usar uma vassoura para acabar com a bandalheira. Era o que era, deu no que deu. Eu era uma criança e o que sei dele é através do que a história conta. Mas já era um adulto e não foi difícil enxergar o louco que havia nele quando, em 1985, derrotou Fernando Henrique Cardoso na disputa pela prefeitura de São Paulo.

No Brasil de 1989, na primeira eleição direta desde a de Jânio Quadros, Fernando Collor prometeu acabar com os marajás. Era o que era, deu no que deu. Estava na cara que não podia dar certo, mas o povo preferiu um “filhote da ditadura” na primeira oportunidade que teve de dizer que as ditaduras não prestam. Tinha Dr. Ulysses, Covas, Brizola. Ficou com Collor.

No Brasil de 2018, Jair Bolsonaro, fazendo arminha, defendeu a pátria e a família e prometeu acabar com comunistas que não existiam. Era o que era, deu no que deu. Afrontou a democracia nos quatro anos do seu mandato, ajudou a matar milhares de brasileiros durante a pandemia e ainda fez de tudo para se perpetuar no poder.

Correndo do centro para a esquerda, o campo democrático costuma subestimar as chances reais que essas figuras têm de conquistar o poder. São bizarras, são histriônicas, não têm conteúdo, serão derrotadas nos debates. Não vencerão. Mas, estamos vendo e revendo, vencem, sim. Vejam o eloquente caso de Donald Trump na eleição americana de 2016.

Temos agora Javier Milei (em imagem da Reuters), eleito presidente da Argentina neste domingo, 19 de novembro de 2023. Quem diria? Ora, ora, era para dizer que sim, que ele tinha grandes chances de derrotar Sergio Massa, o mau candidato de um governo que levou o país ao caos. Milei, defendendo teses absurdas, não só ganhou, como teve uma vitória expressiva.

A democracia argentina subestimou o fenômeno Milei. Vendo a cobertura pela televisão, fiquei pensando no Brasil de 2026. Lula acha que é fodástico, e o eleitor de Lula acha, igualmente, que ele é fodástico. Mas a direita bolsonarista está vivíssima, e o otimismo que enxergo nos que fazem o governo não pode permitir que subestimemos a força da extrema-direita.

Está posto. Javier Milei, um sujeito com cara de louco, é o próximo presidente dos argentinos. Nem sei se devemos chorar por eles. Afinal, o sujeito venceu e venceu bem. Quando vejo o centrão no poder e Lula deslumbrado com a sensação de que é um extraordinário líder mundial, prefiro, desde já, chorar pelo Brasil e pelo nosso futuro enquanto nação.

Aos 80 anos, Atilio Borón, um dos grandes intelectuais da Argentina, gravou um vídeo dizendo que queimaria sua biblioteca se Milei fosse eleito. Fica, para mim, como o mais triste e mais eloquente retrato do quanto gente como Milei – ou Trump, ou Bolsonaro – é subestimada pelas forças democráticas. Olho nele. Olho nos daqui. Pense no Brasil. Reze pelo Brasil.

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