Hospital Padre Zé recebeu mais de R$ 290 milhões em verbas públicas nos últimos cinco anos
A Operação Indignus, deflagrada nesta quinta-feira (5), revelou um escandaloso esquema de utilização de verbas do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, que teriam sido usadas para bancar imóveis e itens de luxo. Um questionamento que foi feito é sobre qual seria a fonte desses recursos. Para além das doações de boa fé, de pessoas privadas, a entidade filantrópica recebeu considerável volume de recursos públicos, nos últimos anos.
Levantamento realizado pelo Conversa Política, com base em informações disponíveis nos sites de transparência federal, estadual e do município de João Pessoa, aponta que, nos últimos cincos anos o Padre Zé recebeu mais de R$ 290 milhões de verbas públicas através de convênios nas três esferas do Executivo. (veja tabela logo abaixo)
São recursos, em parte, provenientes de emendas de parlamentares que, até que se prove o contrário, destinaram recursos públicos para a entidade manter um trabalho fundamental para a população mais vulnerável.
O maior volume de dinheiro foi repassado pelo governo do estado, através de convênios firmados com o Instituto São José, nome oficial da administração do Hospital, que era gerido pelo Padre Egídio.
Ele renunciou ao posto, no mês passado, após a revelação de um escândalo envolvendo o ex-funcionário do Hospital Padre Zé, um dos suspeitos de furtar mais de R$ 500 mil em celulares da unidade, que foram doados à instituição. O dinheiro deveria ser usado para manutenção do hospital.
Em seu lugar, recentemente, assumiu o Padre George Batista.
Convênios com Padre Zé
O montante de verbas estaduais recebido pelo Instituto São José passa de R$ 240 milhões. O dinheiro foi obtido através de convênios da entidade com as Secretarias de Estado da Saúde e a de Desenvolvimento Humano, destinado à manutenção do serviço hospitalar e também ações sociais como cursos profissionalizantes, fornecimento de refeições através do programa ‘Prato Cheio’ e manutenção da casa de apoio.
O Padre Zé também tem o montante de R$ 55,6 milhões de verbas empenhadas pela prefeitura de João Pessoa através do Fundo Municipal de Saúde, entre 2018 e 2023. Parte desses recursos foram dotados pelos vereadores no orçamento do município através de emendas impositivas.
Há também o registro de quase R$ 710 mil em verbas federais, as únicas que são todas provenientes de emendas parlamentares entre 2019 e 2021, também com o propósito de ajudar na manutenção da entidade filantrópica. Não há registro de emendas nem convênios assinados com o governo federal para o Instituto em 2022 e este ano. Confira:
Verba pública destinada ao Hospital Padre Zé
Convênios federais
2021: R$ 209.930,00
2020: R$ 100.000,00
2019: R$ 400.000,00
TOTAL – R$ 709.930,00
Convênios estaduais
2023: R$ 16.180.000,00
2022: R$ 33.269.282,19
2021: R$ 41.070.085,63
2020: R$ 45.546.267,49
2019: R$ 49.563.267,49
TOTAL – R$ 240.857.170,29
Convênios municipais
2023: R$ 5.423.153,91
2022: R$ 9.788.762,67
2021: R$ 11.646.299,87
2020: R$ 11.107.721,06
2019: R$ 10.634.424,82
TOTAL – R$ 48.600.362,33
TOTAL GERAL – R$ 290.167.462,60
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Defesa
O advogado do Padre Egídio, Sheyner Asfora, em entrevista pela manhã, afirmou que o religioso está à disposição para prestar esclarecimentos, prestar declarações de maneira oficial. “Ele não se encontra foragido. Ele está à disposição de todo o corpo de investigação (…) não tive conhecimento sobre o teor da decisão e isso que farei agora”, afirmou.
Nota do hospital
Em nota, divulgada na manha desta quarta-feira (05), a nova direção do Hospital disse que acompanha todo o processo que corre sobre segredo de Justiça, colaborando de maneira irrestrita com as investigações.
“Deve-se destacar que a atual gestão, que assumiu no último dia 25, tem contribuído com toda a investigação e que tão logo sejam concluídas irá se pronunciar no que toca ao Hospital Padre Zé. Ressalta-se que os investigados na operação “Indignus” não fazem mais parte da diretoria da instituição”, afirmou.
Na nota ressaltou ainda que, no momento, o esforço é para manutenção dos serviços prestados para a população, cumprindo com todas obrigações administrativas que conta com a ajuda de todos que acreditam na instituição.
Pedido da nova direção
Esta semana, a nova diretoria do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, solicitou ao Ministério Público da Paraíba uma auditoria “ampla e irrestrita” em todas as suas contas, contratos, convênios e projetos instituição.
O Hospital Padre Zé revelou que está passando por “grave problemas financeiros”, mas que os serviços não serão suspensos.
A nova diretoria do Hospital Padre Zé, após avaliar a situação operacional, funcional, contábil e financeira, constatou que a unidade encontra-se com inúmeras dívidas que comprometem a sua funcionalidade.