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Ditadura sangrenta comandada pelo general Pinochet no Chile começou há 50 anos

11 de setembro. Todo mundo lembra logo do 11 de setembro de 2001, o dia do ataque às torres gêmeas em Nova York. Mas há um outro 11 de setembro que não deve ser esquecido: o 11 de setembro de 1973, o dia em que, há exatos 50 anos, o general Augusto Pinochet comandou o golpe que derrubou Salvador Allende, o presidente democraticamente eleito, e deu início a uma sangrenta ditadura no Chile.

Allende era médico e fundador do Partido Socialista chileno. Foi derrotado três vezes em eleições presidenciais. Venceu na quarta tentativa, em 1970. Estava com 62 anos. Acreditava no socialismo democrático, conquistado através das urnas. Seu governo, ao mesmo tempo em que atraiu vozes progressistas de várias partes do mundo, enfrentou, externamente, forte resistência dos Estados Unidos, cujo presidente era o republicano Richard Nixon, e, internamente, da direita e das Forças Armadas.

O general Augusto Pinochet tinha 57 anos quando esteve à frente da deposição do presidente Salvador Allende. Pinochet havia substituído no comando do Exército o general Carlos Prats, que era legalista e leal ao presidente. Allende tentou resistir ao golpe e morreu dentro do Palácio de La Moneda, a sede do governo chileno. Nos últimos anos, a tese do suicídio se sobrepôs à versão do assassinato.

O general Pinochet assumiu o governo do Chile com apoio do governo americano numa época em que os Estados Unidos apoiavam e até patrocinavam ditaduras de direita na América Latina. Ficou no comando do país por quase 17 anos, até março de 1990. Realizou plebiscitos para se manter no poder com a imprensa amordaçada, total ausência de liberdade de pensamento e perseguição a artistas e intelectuais.

Sob Pinochet, a ditadura do Chile foi sangrenta. No momento do golpe, os militares levaram centenas de pessoas para o Estádio Nacional, que se transformou num campo de tortura e execução. Três mil opositores do regime foram assassinados, enquanto 200 mil chilenos tiveram que deixar o país, partindo para o exílio.

No Brasil do regime militar, as notícias sobre a ditadura chilena eram muito filtradas, mas, aos poucos, fomos montando o retrato do horror. Não deixa de ser irônico que, em 1982, um filme de produção americana – Missing, de Costa-Gavras – tenha contado uma história verdadeira na qual um cidadão americano desaparece misteriosamente no Chile de Pinochet.

O músico argentino José Alberto Kaplan, que viveu e morreu em João Pessoa, e sua mulher, a paraibana Márcia Steinbach, estavam no Chile quando houve o golpe. Por pouco não foram sumariamente executados pelos militares. A interferência do ex-governador João Agripino, que tinha serviços prestados à ditadura brasileira e era amigo do casal, foi fundamental para que Kaplan e Márcia tenham voltado sãos e salvos ao Brasil. Histórias como essa nos aproximavam do que acontecia no Chile.

Não faz muito tempo, ouvi de Evandro Teixeira testemunho fortíssimo sobre o momento da deposição de Allende. Mestre do fotojornalismo brasileiro, hoje com 87 anos, Evandro cobriu o golpe para o Jornal do Brasil. Ele conseguiu entrar no Estádio Nacional e viu pelo menos um caminhão saindo dali com os corpos das pessoas executadas. Evandro também estava no hospital onde o grande poeta Pablo Neruda morreu 11 dias depois do golpe em circunstâncias até hoje questionadas.

Depois que a ditadura acabou, o Chile já foi governado por presidentes da esquerda à direita. Gabriel Boric, o atual presidente, é de esquerda. É desalentador constatar que, neste 2023 em que faz 50 anos da deposição de Salvador Allende, a ultradireita chilena  reconquista terreno no jogo político, representando uma real ameaça às forças democráticas.

PS 1:

Em cima de uma maca, num corredor de hospital, o corpo do poeta Pablo Neruda. Somente Evandro Teixeira fez esse registro.  

PS 2:

Victor Jara canta Te Recuerdo Amanda. Jara foi preso, torturado e assassinado pelos militares chilenos.

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