Chato, arrogante e megalômano, Roger Waters faz 80 anos
Syd Barrett, o guitarrista e membro fundador do Pink Floyd, teve um colapso mental antes que a década de 1960 terminasse e não pôde permanecer na banda. Nunca mais voltou da sua “viagem” e morreu aos 60 anos em 2006. O tecladista e membro fundador Richard Wright morreu de câncer em 2008. Tinha 65 anos. O guitarrista David Gilmour, que entrou no grupo substituindo Syd Barrett, está com 77 anos. E o baixista e membro fundador Roger Waters fez 80 anos nesta quarta-feira, seis de setembro de 2023.
A mídia falou pouco do octogésimo aniversário de Roger Waters. Na quarta-feira, o aniversário do músico perdeu na competição com outra notícia do mundo do rock: a entrevista de Mick Jagger, Keith Richards e Ronnie Wood em Londres. Os três anunciaram o novo álbum dos Rolling Stones, Hackney Diamonds, o primeiro disco autoral de estúdio da banda em 18 anos, e o lançamento do single Angry, uma das 12 faixas do disco que será disponibilizado no dia 20 de outubro.
Não há Rolling Stones sem Mick Jagger ou Keith Richards. Não haveria Beatles sem John Lennon ou Paul McCartney. Do mesmo modo, não há Pink Floyd sem Roger Waters ou David Gilmour. E, para sermos precisos, até houve, em álbuns como A Momentary Lapse of Reason e The Division Bell, mas, convenhamos, não era a mesma coisa. Enquanto coube a Richard Wright e Nick Mason papel de coadjuvantes, Waters e Gilmour, para o bem e para o mal, foram os protagonistas, na convergência e na divergência.
Há o Pink Floyd psicodélico de The Piper at the Gates of Dawn (1967) e A Sacerful of Secrets (1968) e o experimentalista do duplo Ummagumma (1969). Há a perfeição perseguida e quase atingida em Atom Heart Mother (1970) e Meddle (1971) e a mais absoluta perfeição finalmente alcançada com The Dark Side of The Moon, de 1973.
The Dark Side of The Moon, quase que consensualmente, não é só o melhor e mais importante título da discografia do Pink Floyd. É também, em qualquer tempo, um dos grandes discos do rock. O incrível é que o grupo enfrentou e venceu o desafio de não deixar a peteca cair no trabalho seguinte. Wish You Were Here, de 1975, é tão extraordinário que muitos fãs chegam a considerá-lo tão bom quanto The Dark Side of The Moon. Sem fazer escolhas, prefiro dizer que ambos são soberbos.
O duplo The Wall, de 1979, é puro Roger Waters. Tão bom quanto pretensioso. Quando encenado ao vivo, exibe o conflito de ficar parecido com a crítica que faz ao nazismo. Está longe de ser tão bem resolvido quanto The Dark Side of The Moon e Wish You Were Here, mas não há como negar os méritos que ostenta nem deixar de reconhecer a sua imensa popularidade. The Final Cut, de 1982, é ainda mais Roger Waters do que The Wall e seu último disco com o Pink Floyd.
The Final Cut sempre me pareceu subestimado. É interessante como retrato do seu criador: se debruça sobre o trauma nunca superado de perder o pai na guerra e desnuda o egocentrismo que, por fim, inviabilizou o trabalho em grupo. Aos 80 anos, Roger Waters está prestes a lançar uma releitura de The Dark Side of The Moon e faz turnê que passará pelo Brasil. Como ativista, a despeito do seu extremismo, é uma voz importante no mundo do rock. É um chato, arrogante e megalômano, mas tem talento para dar e vender.