da Praça dos Três Poderes ao Pavilhão do Chá
A região entre a Praça João Pessoa e a Praça Venâncio Neiva, no Centro, ajudam a escrever capítulos importantes sobre a história da cidade que completa 440 anos nesta terça-feira (5). O local abriga prédios e monumentos históricos, como o edifício do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), onde está enterrado um ex-presidente da República do Brasil, e o Pavilhão do Chá. O segundo episódio da série “A João Pessoa que as ruas contam” faz um percurso pela área.
Leia também: A João Pessoa que as ruas contam: Igreja da misericórdia
O ponto de partida é a Praça João Pessoa, também chamada de Praça dos Três Poderes. De um lado está a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), do outro lado está a sede do Tribunal de Justiça e ao fundo o Palácio da Redenção, que por muito tempo foi sede do Governo do Estado.
Segundo a historiadora Loyvia Almeida, a Praça João Pessoa nem sempre teve este nome, e em seus arredores, funcionava um conjunto de prédios ligados à ordem religiosa dos Jesuítas. Esse conjunto compreendia o Palácio da Redenção e o prédio ao lado, conhecido como a antiga Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), bem como o atual Palácio da Justiça.
“O primeiro nome que a gente tem desse espaço aqui era Paço do Colégio, em relação ao Colégio dos Jesuítas”.
A praça ainda foi chamada de Comendador Felizardo, e após a morte de João Pessoa recebeu o seu nome. Até hoje, pela simbologia que o local carrega, a Praça dos Três Poderes é um dos principais locais de João Pessoa escolhidos para manifestações e outros eventos políticos, como destaca a historiadora.
“É muito natural que ao longo dos anos esse espaço dessa praça tenha sido ocupado para vários tipos de manifestação, né? Até hoje, volta e meia, a gente passa por aqui, tem algum tipo de manifestação, reivindicação sindical. Então, é um espaço extremamente importante para o convívio da nossa cidade”.
Palácio da Justiça: onde repousa Epitácio Pessoa
O prédio, que também é conhecido como Palácio da Justiça, foi construído entre 1917 e 1919. A exuberante construção de características neoclássicas foi sede da Escola Normal dos Jesuítas até 1939, quando passou a abrigar o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB). Um fato curioso sobre o edifício é que, em seu subsolo, repousam o ex-presidente da República Epitácio Pessoa e a esposa Mary Saião Pessoa, enterrados em uma cripta no local.
Epitácio Pessoa, tio de João Pessoa e presidente da República de 1919 a 1922, morreu e foi enterrado no Rio de Janeiro em 1942. Anos depois, os seus restos mortais e os de sua esposa foram trazidos para a sede do Tribunal de Justiça em João Pessoa, como explica a historiadora Loyvia Almeida.
“Quando ele morre, é enterrado no Rio de Janeiro e aí por eventualidade do seu centenário, em 1965, o prédio do Tribunal de Justiça recebe esses restos mortais do Epitácio Pessoa e da sua esposa e fazem uma belíssima homenagem”.
Além da cripta, em uma das salas do Palácio da Justiça funciona um museu sobre Epitácio Pessoa e sua família, com registros da atuação política do jurista e ex-presidente, fotos de momentos com familiares e até uma louça utilizada pela família.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) desde 1980, o Palácio da Justiça tem também o Museu do Judiciário Paraibano. O acervo do TJPB está disponível online.
Pavilhão do chá: ponto de encontro da elite
Seguindo o passeio, a poucos passos da Praça dos Três Poderes, está a Praça Venâncio Neiva, construída em 1917, cujo nome homenageia o primeiro governador da Paraíba após a Proclamação da República. É lá que foi inaugurado em 1931 o Pavilhão do Chá, uma estrutura inusitada para os padrões da época. Inspirado na tradição britânica do chá das cinco, o espaço foi projetado como um ponto de sociabilidade e lazer no início do século XX.
Loyvia Almeida comenta que o Pavilhão do Chá foi um importante monumento cultural, onde, por muito tempo, as classes mais abastadas da cidade se reuniam para discutir cultura, política e economia, com direito ao chá das cinco ou café.
“Abrigava o serviço realmente de chá e cafés. E era um ponto de encontro para classe média, para elite paraibana, um espaço de convivência, aquelas trocas. Era uma praça onde se discutia, se debatia cultura, se debatia política, se debatia economia”.
O espaço ainda mantém a estrutura, apesar de desgastada pelo tempo. Hoje, serve de abrigo para muitas pessoas que circulam pelas ruas da capital paraibana. Um reflexo, segundo a historiadora Loyvia Almeida, de como as ruas testemunham a história e suas transformações. “Isso mostra como a história vai modificando e caracterizando os espaços ao longo dos anos”.