Ney Matogrosso, Camila Morgado e os Afro-Sambas no Fest Aruanda
Nesta terça-feira, 10 de dezembro, a edição 2024 do Fest Aruanda chega ao seu penúltimo dia. Na programação, tem Ney Matogrosso, Camila Morgado e um documentário sobre os Afro-Sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes.
Desvendando os Caminhos da Música e o Ofício de Interpretar. É como aparece na programação a sessão com Ney Matogrosso. Terá uma interlocução direta em cena aberta com a atriz Camila Morgado e mediação a cargo do ator Daniel Porpino.
Será às três da tarde na Sala Bessa do Hotel Aram, em Tambaú. A sessão é reservada para atrizes e atores convidados.
Já na Mostra Competitiva Nacional, será exibido o documentário Os Afro-Sambas, O Brasil de Baden e Vinícius. Direção de Emílio Domingos. Sessão às nove e meia da noite na sala 9 Macro XE da Cinépolis, no Manaíra Shopping.
Os Afro-Sambas é um álbum que Baden Powell e Vinícius de Moraes lançaram em 1966 pelo selo Forma. Seu repertório com músicas de Baden e letras de Vinícius é de pura invenção, de verdadeira criação de um gênero.
Os Afro-Sambas é um dos discos mais importantes da história da música popular brasileira. É indispensável conhecê-lo. É imprescindível reouvi-lo sempre. Muito bom que agora seja tema de um documentário.
Camila Morgado era uma atriz que estava consolidando sua carreira quando teve seu nome conectado à obra de Vinícius de Moraes. É que, em 2005, Camila e Ricardo Blat dividiram o protagonismo do filme Vinícius.
Dirigido por Miguel Faria Jr., Vinícius é um documentário, mas é também uma espécie de ensaio poético sobre Vinícius de Moraes, sua obra de poeta canônico e de letrista da canção popular do Brasil.
Um ano antes, em 2004, Camila Morgado se projetara fazendo Olga Benário no filme Olga, dirigido por Jayme Monjardim. Ali, Camila já se afirmava como uma das atrizes mais talentosas da sua geração, interpretando o papel da companheira do líder comunista Luiz Carlos Prestes.
Por fim, Ney Matogrosso. Para fechar esse post, resgato duas coisas que escrevi sobre ele aqui na coluna. Primeiro, algo de quando, em 2019, vi o show Bloco na Rua.
“Ney Matogrosso é um homem de muita coragem. Ney Matogrosso é um transgressor maravilhoso. Visto de perto, nos bastidores, sempre parece tímido. No palco, se agiganta. É um performer extraordinário.
Bloco na Rua é fortemente político. Não foi, necessariamente, pensado para o Brasil de 2019. O que o artista diz, através dessas canções, fala de uma utopia permanente, expressa ali no Coração Civil de Bituca.
Mas diz muito no Brasil de 2019. Do Brasil tomado pela barbárie política e por uma caretice sem fim. Digamos que Bloco na Rua não é um comentário sobre o Brasil de 2019, mas para o Brasil de 2019.
É o que Ney Matogrosso tem a nos dizer. Aos não caretas e também aos tantos caretas que lotam o teatro”.
Agora, parte do que escrevi depois de ver o show de Ney Matogrosso na edição 2024 do Rock in Rio.
“Ney Matogrosso é um dos grandes artistas da música popular brasileira. Sua trajetória, desde que, em 1973, surgiu nos Secos e Molhados, dá conta dos últimos 50 anos do Brasil, esse país que sobrevive entre impasses e superações.
Ney Matogrosso é um artista imenso. Ele não precisa se manifestar ostensivamente a favor de partidos e políticos de esquerda. Ele não precisa levantar ostensivamente as bandeiras da comunidade LGBTQIAP+.
Já está tudo no seu permanente espírito transgressor. Do jovem que cantava Sangue Latino, nos Secos e Molhados, ao homem de 83 anos que faz um show sem qualquer concessão no Rock in Rio, em evidente contraposição ao lixo da atualidade que se incorporou ao festival e mudou o perfil do evento.
Eles são muitos, mas não podem voar – está na letra de Pavão Mysteriozo, que o cearense Ednardo cantava em 1974. Está no canto de Ney Matogrosso, meio século depois”.