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Em sua última entrevista, Sivuca estava consumido pelo câncer

Foto/Reprodução.

Se estivesse vivo, Sivuca teria feito 94 anos neste domingo, 26 de maio de 2024. Fiz a última grande entrevista de Sivuca e, nesse post, trago lembranças daquela conversa.

João Pessoa, novembro de 2006. 32 anos se passaram entre a primeira vez em que vi Sivuca ao vivo e a última em que estive perto dele. Não mais como espectador, sentado na poltrona de um teatro, a alguns metros do palco, mas na sala do seu apartamento, no bairro de Manaíra, com a missão de entrevistá-lo.

Dias antes, recebi o convite num telefonema que fiz a Glorinha Gadelha para parabenizar o casal pelo lançamento do DVD O Poeta do Som. Na conversa, ela disse que alguém precisava fazer uma longa entrevista com Sivuca.

Ele estava no fim (todos sabiam), e Glorinha tinha o desejo de que contasse histórias para a posteridade. De que desse uma extensa entrevista. Certamente, a última.

Cheguei ao apartamento no final da tarde de uma terça-feira, dois dias antes do concerto em que Sivuca se despediria da Orquestra Sinfônica da Paraíba. Sivuca estava abatido, cansado, quase vencido pelo câncer que o consumiu durante mais de três décadas.

Tinha um fio de voz, perdera muito peso. Vestia calças jeans e uma camisa xadrez, azul e branca. Conversamos durante duas horas sobre temas que levei anotados num papel.

Uma conversa com pouca improvisação e, para poupar o entrevistado, bem menos extensa do que eu desejava. Sivuca em suas próprias palavras – foi o conceito que me guiou quando fiz a pauta. Era esse o resultado desejado.

Já era noite quando a entrevista terminou. Ainda falamos rapidamente sobre a homenagem que ele receberia, dois dias depois, da Orquestra Sinfônica da Paraíba. Seria sua última performance ao vivo, numa breve apresentação no Espaço Cultural José Lins do Rego.

Voltei para casa dividido. Profissionalmente, feliz com a sensação de que tinha feito uma boa entrevista. Triste pela confirmação de que Sivuca estava no fim.

Esgotavam-se todas as alternativas da luta contra o câncer, iniciada em 1974, quando Glorinha o conheceu, apresentados um ao outro pelo amigo comum José Bezerra Filho. Na época em que, vindo do Zaire, reencontrara seus conterrâneos naquela noite inesquecível, no palco do Teatro Santa Roza.

Três semanas se passaram até que, no final da noite de 14 de dezembro de 2006, Sivuca morreu no Hospital Memorial São Francisco, no bairro da Torre, em João Pessoa. Estava com 76 anos.

A última entrevista de Sivuca foi publicada no jornal O Norte na edição de 24 de dezembro de 2006 e republicada em 2010 no Correio das Artes, o suplemento literário de A União.

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