O bairro do José Pinheiro é um dos maiores e mais tradicionais de Campina Grande, conhecido também pelo seu comércio, que teve origem com o seu morador mais famoso e que dá nome ao bairro. José Pinheiro – o homem – era um ‘faz tudo’: fazia eventos, era budegueiro, curandeiro e até professor. Neste sábado (17), a TV Paraíba promove no bairro o Circuito Comunidade com vários serviços gratuitos para a população campinense.
O Jornal da Paraíba conversou com um dos 11 filhos de José Pinheiro. Com 74 anos e também chamado José Pinheiro, o filho caçula do morador mais famoso do bairro conta que o pai era um homem sério, se especializou em enfermagem no Recife (PE) e colocou seus conhecimentos de saúde em prática na região.
O filho também conta que o pai tinha uma bodega, promovia festas de pastoril e brigas de galo. O caçula passou apenas a infância com o pai em Campina Grande e deixou a casa com apenas 12 anos para trabalhar com o cunhado. Hoje, ele é aposentado e morador do bairro do Geisel, em João Pessoa.
Na época, o bairro de José Pinheiro se chamava Açude Velho, mas teve o nome mudado por causa da tamanha popularidade do morador. O caçula conta que a mudança no nome do bairro foi “natural” e ele mesmo só percebeu como o pai foi influente quando pesquisou pelo nome e a história dele no Google.
O filho guarda a foto de um recorte de jornal que registra uma entrevista com José Pinheiro e toda a história do morador com o bairro. Na publicação, o jornalista descreve José Pinheiro como um homem “moreno, de cabelos grisalhos, com a idade de 64 janeiros”. O registro afirma que ele nasceu em 1900, em Alagoa Grande, no Agreste da Paraíba, e se instalou no bairro que hoje recebe seu nome, em Campina Grande, no ano de 1928.
De acordo com o jornal, José Pinheiro comprou três casas no bairro: uma para ser sua residência, outra para a bodega e mais uma para a sua mãe. Ele também alugava pedaços de terra na região e teria idealizado a criação de duas ruas, a 2 de Julho e a Estácio de Sá. Sobre as festas de pastoril, o jornal afirma que vinha gente de todas as “quadrantes da cidade” e era uma “animação louca!”.
“Perto da sua casa de negócio instalou um palanque para as apresentações de pastoril, que servia de ‘chama’ para o seu negócio e, ao mesmo tempo, animava as noites do bairro”, registra o recorte de jornal.
O que dizem os historiadores?
Nascida e criada no José Pinheiro, a historiadora Juliana Almeida estudou o bairro e a vida do seu morador mais famoso para o seu trabalho de conclusão de curso de História na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Ela define a região como um bairro-cidade, vivo, cheio de memórias, cultura e identidade.
A característica comercial do bairro também fez parte da sua família, que vendia leite e tapioca na região. Ainda moradora do bairro, ela conta que viu no estudo da história uma oportunidade de falar sobre o lugar em que sempre viveu.
O homem que deu nome ao bairro era como uma “carta coringa”, define a historiadora Juliana Almeida. José Pinheiro era de tudo um pouco: comerciante, curandeiro, promovia festas de forró, organizava brigas de galo e existem até registros que afirmam que ele era professor. “Ele era desenrolado”, diz a historiadora.
Juliana explica que ele também montou a primeira bodega do bairro, que deu origem à característica comerciante da região e foi responsável por reformular aquele espaço. Ele se tornou muito popular na cidade porque conversava com muita gente na bodega em que vendia uma lista variada de mercadorias, que vai desde alimentos até raízes que eram remédio para os adoentados.
O então bairro do Açude Velho foi criado a partir das terras compradas pela família Agra. Mas com tamanha popularidade, movimentação cultural e comercial, o bairro vai sendo chamado naturalmente pelo nome do mais famoso morador: o José Pinheiro.
A historiadora Juliana Almeida conta que foi se tornando comum as pessoas falarem que iam no “José Pinheiro” comprar algo ou dançar um forró.
Ele foi um habitante que mudou a história do bairro, sem imposição, ele consegue isso através do povo.
Em entrevista ao Jornal de Campina, em 1953, José Pinheiro comenta a mudança do nome do bairro e relata que algumas pessoas não aceitavam que tivesse o seu nome. O registro foi resgatado por Juliana Almeida, em sua pesquisa sobre o bairro de José Pinheiro.
“Perguntamos, então: nunca tentaram mudar o nome de José Pinheiro? -Sim, quiseram, certa vez, mudar o nome do bairro que tem o meu nome, alegando que pessoas vivas não poderiam prestar o seu nome para denominação de localidades, etc. No entretanto, o povo já tinha consagrado e como diz o provérbio popular, ‘voz do povo é a voz de Deus'”, registra o recorte do jornal.
Circuito Comunidade
O Circuito Comunidade da TV Paraíba acontece neste sábado (18) na Praça Joana D’arc, conhecida como praça do Zepa, no bairro José Pinheiro, em Campina Grande. O evento será realizado das 8h às 13h.
A emissora se aproxima das comunidades, com lazer e serviços úteis para os jovens, crianças e famílias. Serão oferecidos serviços de saúde, beleza, trabalho e meio ambiente.