Homenageados por Mion, Caetano e Bethânia se emocionam e emocionam quem os admira
Sábado passado, seis de abril de 2024, o programa de Marcos Mion recebeu Caetano Veloso e Maria Bethânia numa longa e emocionada homenagem. Os dois artistas cantaram, conversaram, viram mensagens gravadas e reviram imagens do passado diante de uma plateia de famosos convidados pela Globo.
Maria Bethânia vai fazer 78 anos em 18 de junho. Caetano Veloso vai fazer 82 anos em sete de agosto. De agosto a dezembro, percorrerão o país numa turnê que, por enquanto, passará por 10 capitais – Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, Brasília, Salvador, São Paulo, Recife, Fortaleza e Curitiba.
Nesses primeiros dias de abril, Caetano está nos Estados Unidos encerrando sua última turnê internacional – Meu Coco, que caiu na estrada em abril de 2022 e, em dois anos, foi vista nas principais cidades brasileiras, em vários países da Europa e agora, finalmente, em cidades americanas.
Com Gilberto Gil e Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia estiveram juntos quando formaram o grupo Doces Bárbaros, em 1976, que evocava o início da carreira na Salvador da década de 1960. Em 1978, os dois irmãos fizeram os shows que aparecem resumidos num álbum ao vivo lançado naquele mesmo ano.
No programa de Mion, Caetano e Bethânia (Foto/Reprodução) estavam emocionados e emocionaram a plateia. Choraram um pouco e fizeram os convidados chorar um bocado. É que a música que produziram por décadas faz parte da história de cada uma daquelas pessoas. Como de tantos que viram o programa em casa pela TV.
Abordado por Mion, o humorista Paulo Vieira produziu uma dos momentos mais delicados do programa. Falou da pobreza de onde veio e do papel que artistas como Caetano e Bethânia desempenharam na formação dele. Foram guias. Foram faróis. Neles, em Caetano e Bethâna, está o melhor do Brasil.
Particularmente, me tocaram muito as imagens e os sons de um encontro de Caetano Veloso com sua irmã Nicinha exibido no telão do auditório. Creio que é um vídeo de 1977, da época do álbum Bicho. Com sua linda voz, Nicinha faz Alguém Cantando acompanhada pelo violão (e um pouco pela voz) do irmão.
Nicinha era a mais musical da família, assegura Caetano. Para ela, compôs Alguém Cantando. E, um pouco antes, Nicinha, que está no álbum Qualquer Coisa, de 1975. “Se algum dia eu conseguir cantar bonito/Muito terá sido por causa de você, Nicinha”, diz a letra. E já teria dito tudo.
Mas diz mais: “A vida tem uma dívida/Com a música perdida/No silêncio dos seus dedos/E no canto dos meus medos/E no entanto, você é a alegria da vida”. Para mim, foi o momento mais bonito e de maior emoção da presença de Caetano e Bethânia no programa de Marcos Mion.
Caetano, ouço desde 1967, quando eu só tinha oito anos, e ele surgiu cantando Alegria, Alegria no festival de MPB. Caetano e meu pai nasceram no mesmo dia, leoninos de sete de agosto. Meu pai, seis anos mais velho. Os dois, ateus, mas com um nítido sentimento cristão do mundo e da vida dos seres humanos.
Caetano Veloso faz parte de um grupo de artistas que foram guia, foram farol na minha vida de ouvinte e amante da música. Suas melodias, suas letras, sua voz, sua presença no palco, sua inteligência, sua crença – apesar de tudo – nos destinos do Brasil.
Maria Bethânia, ouvi muito sobretudo na década de 1970. Drama, A Cena Muda, Pássaro Proibido, Pássaro da Manhã, Álibi, Mel. Eram e continuam sendo álbuns essenciais. Sempre admirei a força incomum e singular do seu canto, bem como a liberdade da qual nunca abriu mão. A liberdade de fazer ao seu modo.
No final do programa, em texto lido, Marcos Mion deu um recado sobre a banalização das coisas e saudou Caetano e Bethânia como verdadeiros artistas. É o que eles são: verdadeiros artistas. Caetano Veloso e Maria Bethânia estão entre as grandes belezas e as imensas riquezas do Brasil.