The Dark Side of The Moon, o disco mais importante do Pink Floyd, completou 50 anos em março último. Roger Waters fez 80 anos há pouco mais de um mês. No início de outubro, o músico lançou uma nova versão do álbum. É The Dark Side of The Moon Redux.
Em 2021, quando refilmou West Side Story, Steven Spielberg sabia que não podia fazer melhor do que o original de 1961. Como não podia fazer melhor, fez diferente.
Uso o mesmo raciocínio para Dark Side Redux de Roger Waters. Não é melhor. Não pode ser melhor. É diferente.
Se assim é possível, digamos que é diferente sendo parecido. Ou é Pink Floyd sem ser Pink Floyd. Não é David Gilmour, é Roger Waters. Não é pra fora, mas pra dentro. Não é novo, mas velho.
Redux não é cantado. É declamado e falado. Não grita, tem voz grave e com pouco volume. Não é extrovertido, mas reflexivo. Não está perto do tempo da criação, mas longe, muito longe.
Não tem solos de guitarra. Nem a voz de Clare Torry. Nem o sax de Dick Parry. Não acrescenta, mas retira. Ou retira muito mais do que acrescenta.
Dizem que traz uma atitude de confronto ao Pink Floyd, a David Gilmour e Nick Mason. Discordo. The Dark Side of The Moon Redux é legítimo. Deve ser ouvido com respeito. Não abandone. Incorpore.
Nesta terça-feira (24), Roger Waters inicia, por Brasília, a série de shows que fará em seis cidades brasileiras. Nesta segunda-feira (23), esteve no Palácio do Planalto e foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto/Ricardo Stuckert PR).
Sua vez anterior por aqui foi há cinco anos, às vésperas da eleição de Jair Bolsonaro. Em São Paulo, foi vaiado por bolsonaristas. Na época, escrevi o seguinte:
“Quem vai ao show de Chico Buarque sabe da militância política do artista. Na turnê Caravanas, que passou há pouco por João Pessoa, nem era preciso que Chico gritasse o “Lula livre”. A plateia já se manifestava espontaneamente.
Quem vai ao show de Roger Waters sabe da militância política do artista. Muito maior do que a de Chico Buarque porque se dá em escala planetária. No caso do ex-Pink Floyd, não é necessário que a plateia se manifeste. O grito vem do palco, do artista, está estampado explicitamente nos telões.
O neofascismo está crescendo. Trump nos Estados Unidos. Le Pen na França. Putin (com uma interrogação) na Rússia. Bolsonaro no Brasil. O alerta de Waters é claro.
Roger Waters se apresentou em São Paulo. E foi surpreendido. Uma parte expressiva do público que pagou caro para vê-lo cantar grandes sucessos dos tempos do Pink Floyd não gostou do engajamento político do artista (sobretudo do “ele não” exibido no telão). Como se não o conhecesse, como se não soubesse que ele faz assim em qualquer parte do mundo.
Waters foi vaiado. Foi xingado. Chamado de filho da puta”.
Em 2018, Roger Waters tentou visitar Lula, que estava preso em Curitiba. Não conseguiu. Em 2023, ele volta ao Brasil e é recebido por Lula presidente da República. Juntos, Lula e Waters mostram que o mundo não dá voltas. O mundo capota.